Título: EXERCÍCIO MILITAR COM ÍNDIOS SERÁ INVESTIGADO
Autor: Antero Gomes
Fonte: O Globo, 09/01/2006, O País, p. 5

Ministério Público vai apurar denúncia de que populações indígenas são usadas em simulações de guerra

O Ministério Público Federal vai investigar a utilização de índios e descendentes em exercícios militares das Forças Especiais do Exército no interior do país. É o que diz a procuradora federal dos Direitos do Cidadão, Ela Wiecko, que se mostrou bastante surpresa com o material sobre a denúncia, publicada ontem pelo jornal ¿Extra¿. A Câmara dos Deputados e a Funai também vão cobrar explicações do Ministério da Defesa e do Exército.

¿ Do ponto de vista dos povos indígenas, esse contato com armas é prejudicial. Não tem nada a ver com os índios ¿ disse a procuradora. ¿ Fiquei surpresa, sobretudo ao ver mulheres nesses exercícios (portando fuzis).

A mesma surpresa foi demostrada pelo procurador-geral da Fundação Nacional dos Índios (Funai), Luiz Fernando Villares e Silva. Segundo ele, a Funai não tinha conhecimento de que tais exercícios eram feitos, apesar de o Exército dizer que são atividades regulares e, até anuais, mesmo que de forma voluntária e sem emprego de munição.

¿ Não faz parte da cultura dos índios portar armas de fogo ¿ diz Villares, acrescentando que a prática fere o artigo 231 da Constituição, que reconhece aos índios sua organização social, costumes, línguas, crenças e tradições.

Exército diz que se trata de ¿adestramento¿ de militares

Em reportagem publicada ontem, na série ¿Arco, flecha e fuzil¿, o ¿Extra¿ mostrou que populações indígenas e de seus descendentes estariam sendo usadas para simulações de exercícios de guerra. Pelo menos duas fotos mostram índias mirando em fuzis de assalto, como armas Pára-Fal.

Diante da alegação do Exército de que o exercício era para ¿adestramento¿ dos militares e não dos índios, o procurador-geral da Funai disse que isso não atenua o problema.

¿ Não pode do mesmo jeito ¿ conclui Villares.

Antes mesmo da publicação da reportagem, a denúncia já tinha chegado à Comissão de Direitos Humanos da Câmara. Segundo a presidente da comissão, a deputada Iriny Lopes (PT-ES), será enviada uma recomendação ao Ministério da Defesa para que o comando pare com esses exercícios, seja qual for o pretexto.

O Ministério da Defesa informou ontem desconhecer esses exercícios.