Título: BRASIL TEME REAÇÃO DE RICOS A FIM DE SUBSÍDIO
Autor: Eliane Oliveira e Patricia Duarte
Fonte: O Globo, 09/01/2006, Economia, p. 13

Países desenvolvidos tendem a exigir abertura em outras áreas para eliminar protecionismo no setor agrícola

BRASÍLIA. A vitória de pelo menos 110 países em desenvolvimento na reunião ministerial da Organização Mundial do Comércio (OMC) de Hong Kong, com a fixação de 2013 como data-limite para a eliminação dos subsídios às exportações agrícolas, está sendo contabilizada com cautela por governo, especialistas e pelo setor privado brasileiro. Convictos de que, a partir de 2006, as nações ricas vão exigir uma abertura maior em outras áreas, os negociadores do Brasil querem reforçar as alianças para evitar acordos que prejudiquem a competitividade dos produtos brasileiros e causem desemprego e prejuízos irreparáveis à indústria nacional.

¿ Agora, os países ricos vão cobrar mais abertura em serviços e bens industrializados ¿ prevê Lia Valls, economista da FGV.

No Itamaraty, a avaliação é que, além do apoio dos países pobres e em desenvolvimento, que acabou isolando a União Européia na OMC, foi fundamental a aliança entre Brasil e Estados Unidos pela eliminação dos subsídios. Essa união deverá ser reforçada e, dizem os otimistas, pode ajudar as negociações para a Área de Livre Comércio das Américas (Alca). É o que pensa o chefe da Divisão da Alca do Ministério das Relações Exteriores, Tovar da Silva Nunes.

¿ A união das Américas é fundamental na OMC e na Alca ¿ disse.

Para a Confederação de Agricultura e Pecuária do Brasil (CNA), o grande problema dos EUA é o fim da vigência, em 2006, do Trade Promotion Authority (TPA), que permite ao Executivo firmar acordos sem interferência do Congresso. Chefe da Área Internacional da CNA, Donizete Beraldo acha que este será um ano decisivo. Temas como subsídios domésticos, acesso a mercados e serviços terão de apresentar resultado já em abril de 2007. Beraldo lembra que, em março de 2006, haverá uma reunião entre Mercosul e União Européia, mas nada vai caminhar sem a OMC.

Amorim defende reunião de presidentes dos países da OMC

O ministro das Relações Exteriores, Celso Amorim, também está preocupado. Na última quinta-feira, em telefonema ao representante de Comércio dos EUA, Robert Portman, ele insistiu na necessidade de uma reunião de presidentes para dar impulso político às negociações.

¿ A maneira mais óbvia de ter uma influência política é uma reunião. Há risco de se vender gato por lebre na OMC ¿ alertou o chanceler.