Título: NO EMBALO DO CENÁRIO MUNDIAL
Autor: Eliane Oliveira e Patricia Duarte
Fonte: O Globo, 09/01/2006, Economia, p. 13

Compras de China e EUA voltarão a sustentar alta do comércio exterior brasileiro

Ocenário internacional, que impediu que o Brasil tivesse uma taxa de crescimento ainda menor em 2005, continuará aliado do país em 2006. A Comissão Econômica para a América Latina e Caribe (Cepal) e analistas de mercado prevêem que a demanda dos Estados Unidos e da China continuará a crescer, o que manterá em alta o comércio exterior brasileiro, ajudando a acelerar o ritmo de expansão do Produto Interno Bruto (PIB, conjunto de riquezas produzidas pelo país) este ano.

Em 2005, o PIB brasileiro teve uma das menores taxas de crescimento da América Latina, estimado em 2,5%. Para este ano, a Cepal estima um aumento de 3%, a mesma variação projetada para Bolívia, El Salvador e Paraguai. Já o PIB mundial, que segundo a Cepal cresceu 3,2% em 2005, terá uma elevação de 3,3% em 2006. Os aumentos, embora não tão significativos em pontos percentuais, serão motivados, principalmente, pelo comércio exterior.

¿ Há um ciclo, liderado basicamente pelo comércio internacional, que deverá se manter este ano ¿ acredita o economista da Cepal no Brasil, Carlos Mussi.

O economista-chefe da Sul América Investimentos, Newton Rosa, avalia que, com isso, os preços das principais commodities deverão continuar em patamares elevados, beneficiando uma das principais áreas de exportações do Brasil.

¿ O problema para o Brasil é o atraso das reformas básicas, que acabam desestimulando mais investimentos no país ¿ afirma Newton Rosa, citando como exemplo o marco das agências reguladoras.

`2006 será o ano da China¿, diz consultor

Um desafio específico para o Brasil consiste em sair da lista dos países com menores crescimentos, como o de 2005. Com isso, o Brasil vendeu mais de US$118 bilhões ao exterior, recorde absoluto. Mas o país poderia ter tido crescimento maior, não fossem os juros altos.

Para Roberto Padovani, sócio da consultoria Tendências, entretanto, 2006 será ¿o ano da China¿ ¿ o que é positivo para o Brasil:

¿ A China vai continuar crescendo, comprando produtos pelo mundo e, ao mesmo tempo, comprando títulos públicos americanos, o que contribui para um comércio internacional forte e juros baixos.

Interna e regionalmente, a expansão do PIB do Brasil também será favorecida por um clima eleitoral bem diferente do registrado em 2002. Carlos Mussi lembra, aliás, que quase uma dezena de países latinos terá eleição este ano ¿ entre eles, ainda, o México, o Equador, o Chile (segundo turno) e o Peru:

¿ O debate econômico na região será centrado na estabilização econômica e nas políticas públicas.

Roberto Padovani concorda com esta avaliação:

¿ No Brasil não haverá tantas incertezas como em 2002, quando havia grande medo de Luiz Inácio Lula da Silva como candidato. Hoje, os políticas econômicas propostas pelos partidos são conhecidas e o debate sobre macroeconômica dará lugar à ética, à eficiência, à infra-estrutura e aos gastos sociais.

Amorim: investir em tecnologia é a saída

Mas Newton Rosa destaca o lado negativo do cenário mundial este ano. Aponta, como fator de risco, a alta do petróleo. Em 2005, o barril fechou a US$60,90 em Nova York, 40% acima dos US$43 do início do ano. Mas em meados do ano a cotação ultrapassara US$71, e especialistas apostam que, em 2006, os patamares subirão por causa do forte equilíbrio entre oferta e demanda.

O economista-chefe do ABN Amro, Mário Mesquita, aposta que o Brasil crescerá 4% este ano. Diz que muitos latino-americanos terão desempenho melhor porque passaram por recessão recentemente e agora mostram mais vigor. Para a Argentina, prevê expansão de 4,5% a 5%:

¿ O Brasil teve desempenho ruim em 2005 porque optou pela inflação menor. Em 2006, o país crescerá mais, mas sem condições de crescer como outros emergentes, da Ásia por exemplo, com 6% a 7% de taxa anual.

Para o ministro das Relações Exteriores, Celso Amorim, a saída para que o Brasil possa ter desempenho semelhante ao de nações emergentes como Índia e a China é o investimento em ciência e tecnologia:

¿ Este é o segredo para conquistarmos patamares mais elevados.