Título: ANÚNCIO OFICIAL EM REVISTA DO MST CAUSA POLÊMICA
Autor: Ricardo Galhardo/Maiá Menezes
Fonte: O Globo, 10/01/2006, O País, p. 10

Patrocínio da Petrobras é criticado porque publicação não tem qualquer caráter cultural

SÃO PAULO E RIO. A Petrobras decidiu investir recursos para divulgar sua imagem junto aos sem-terra. A estatal publicou anúncios nas duas últimas edições da revista "Sem Terra", do MST. A publicidade foi alvo de críticas do filósofo Denis Lerrer Rosenfield, em artigo publicado ontem no GLOBO. Ontem, a estatal não se pronunciou sobre as críticas ou sobre a decisão de publicar os anúncios. A Petrobras também não informou quanto foi gasto com a propaganda. De acordo com a assessoria de imprensa, a empresa vai comentar o caso somente hoje.

A coordenação nacional do MST divulgou nota defendendo a legitimidade do anúncio, publicado nas edições de setembro/outubro e novembro/dezembro da revista.

"Desde que não desrespeite crenças religiosas, orientações filosóficas ou políticas, todo e qualquer veículo de comunicação pode ser veiculado na sociedade e receber anúncio estatal ou privado. Quem decide o destino das verbas é o próprio governo", diz um trecho da nota do MST.

O MST afirma ainda, na nota, que o fato de a Petrobras investir recursos para a difusão cultural na revista também é legítimo, já que a "Sem Terra" destina espaço à cultura. A nota classifica a crítica de antidemocrática.

Revista critica política agrária do governo Lula

Denis Rosenfield, professor de Filosofia da Universidade do Rio Grande do Sul, no entanto, sustentou ontem que a revista dos sem-terra não tem qualquer cunho cultural:

- Preocupei-me com um patrocínio dito cultural de uma publicação de caráter marcadamente político e partidário, voltada para o desrespeito ao estado de direito, à economia de mercado e às instituições republicanas. A única reportagem de cultura da revista é sobre a cultura dos violeiros, que, segundo eles, seria uma reação à música country do agronegócio e contra a influência estrangeira. Tudo na revista é permeado pela luta de classe. Lá há elogios ao Evo Morales (presidente da Bolívia) e Hugo Chávez (presidente da Venezuela) - disse o filósofo.

O filósofo lembra ainda que o dinheiro gasto com a propaganda é do contribuinte:

- A revista critica o governo Lula, a quem chama de neoliberal e concentrador. Eles enxergam luta de classe em tudo - afirmou Rosenfield.

Em um artigo publicado na última edição da revista, sobre a reforma agrária, o agronegócio é tratado como um "negócio burguês". Na nota, o MST critica a política agrícola do governo Lula. E afirma que o fato de receber a verba significa que o governo não norteia seus patrocínios por critérios políticos.

No anúncio, a Petrobras informa que é "a maior patrocinadora de cultura do Brasil". O título de uma das reportagens, citadas pelo filósofo em seu artigo, é "A única saída para a América Latina é o socialismo".