Título: MERCADO DE AÇÕES EM ALTA
Autor: Patricia Eloy
Fonte: O Globo, 10/01/2006, Economia, p. 19

Bolsa deve receber 30 novas empresas este ano e bater o recorde atingido em 2005

O ano de 2005 chegou ao fim com nove novas empresas na Bolsa de Valores de São Paulo (Bovespa), o maior número dos últimos 19 anos. E, em 2006, o recorde deve ser quebrado de longe: segundo o presidente da Bolsa, Raymundo Magliano Filho, cerca de 30 empresas lançarão ações em Bolsa este ano. No ano passado, as ofertas iniciais de papéis movimentaram, no total, mais de R$6 bilhões, o maior volume desde 1986. As estréias garantiram um lucro de até 152% aos investidores que mantiveram a aplicação até o fim de 2005.

O crescimento da economia brasileira - ainda que menor que o esperado, a manutenção da tendência de expansão econômica teve efeitos positivos sobre o mercado - e a ampla liquidez internacional criaram um ambiente propício para que os empresários decidissem recorrer à Bolsa para se financiarem com um custo menor do que os empréstimos bancários. O movimento contraria a teoria econômica que diz que juros altos - a taxa básica Selic chegou a 19,75% ao ano em maio, o maior nível desde os 20% ao ano de setembro de 2003 - inibem aplicações em Bolsa, pois o investidor pode ganhar com as taxas elevadas sem precisar correr o risco inerente ao mercado acionário.

- Foi um ano espetacular. O investidor mostrou amadurecimento: não comprou apenas ações, mas a expectativa de que, com juros mais baixos a médio prazo, as empresas brasileiras terão um crescimento maior - avalia Roberto Nishikawa, presidente da Itaú Corretora.

Ganhos chegaram a 152% em 2005

Levantamento feito por Marco Melo, chefe de pesquisa de Ações da corretora Ágora Senior, mostra que, das nove estreantes na Bolsa, apenas a exportadora Renar Maçãs acumula queda do lançamento até o último pregão do ano passado: 48,75%. Embora a grande maioria dos investidores pessoa física que aplicaram nas estreantes tenha vendido os papéis na data do lançamento, o lucro maior ficou na mão de quem manteve a aplicação até o fim do ano.

Segundo os dados da corretora, as maiores altas da estréia até meados de dezembro foram das ações da Localiza (152,8%) e da TAM (146,7%). Em seguida, vieram as da Cyrela (113,3%) e do Submarino (91,9%). A TAM já era companhia de capital aberto, mas, como tinha menos de 1% do capital negociado em Bolsa, a operação funcionou como uma abertura de capital.

Apesar de pertencerem a setores tão distintos, como imobiliário, aviação, tecnologia e aluguel de automóveis, todos os papéis tiveram em comum a adoção de práticas de governança corporativa, ou sejas, de proteção aos pequenos investidores. Das nove estreantes, oito lançaram ações no chamado Novo Mercado, mais alto nível de governança da Bolsa, que exige a negociação em ações no mercado de no mínimo 25% do capital e prevê a oferta apenas de papéis com direito a voto (que dão mais garantias aos minoritários em caso de venda do controle).

- Mais do que a quantidade, a qualidade fez diferença este ano. O empresário percebeu que o investidor só vai participar do capital da companhia se for em condições justas e, por isso, vai pagar mais nas ofertas. E o empresário também percebeu que, para ter um melhor acesso a crédito e se tornar uma empresa mais transparente, as condições mudaram. Se não for assim, não conseguirá vender suas ações no mercado - diz Magliano, da Bovespa.

Os estrangeiros tiveram presença maciça nas estréias. Segundo Carlos Alberto Rebelo, superintendente de registros da Comissão de Valores Mobiliários (CVM), eles responderam por cerca de 70% das operações. O investidor pessoa física ficou com 10%. O economista Fábio Oliveira, cliente da Ágora Senior, participou das últimas ofertas de ações: Cyrela, Cosan, Nossa Caixa e UOL.

- Tive um lucro de 14% a 18% em cada oferta, apenas no primeiro dia de negócios, mas, como não conhecia suficientemente bem as empresas, optei pela venda. Com o que ganhei, reapliquei no mercado, em outras ofertas. Com UOL, estou fazendo uma aposta a longo prazo.

inclui quadro: o comportamento dos papéis