Título: O dilema do PFL
Autor: Flávio Freire
Fonte: O Globo, 11/01/2006, O País, p. 10

Partido herda postos cobiçados com Serra ou com Alckmin

BRASÍLIA. Beneficiário direto de qualquer decisão do PSDB sobre a escolha do candidato do partido à sucessão presidencial, o PFL está cauteloso diante do dilema tucano entre o prefeito de São Paulo, José Serra, e o governador Geraldo Alckmin. Se um deles, ou ambos, deixarem os cargos que ocupam para disputar eleições em outubro, o PFL herdará a mais importante administração municipal do país e o governo do mais rico estado brasileiro, dois postos muito cobiçados politicamente. E é com toda a cautela que o presidente do PFL, senador Jorge Bornhausen (SC), estará hoje em São Paulo para encontros - separados - com o vice-governador Cláudio Lembo e com o vice-prefeito Gilberto Kassab. O senador evita opinar sobre a disputa interna do PSDB:

- Se ambos se afastarem para disputar eleições, o PFL assume a responsabilidade de dar continuidade administrativa aos projetos hoje em execução. Eles (do PSDB) têm dois nomes de excelente qualidade. Não seremos nós que vamos assumir a missão de escolher por eles - afirmou ontem o senador.

Essa perspectiva de poder que tem hoje o PFL aumenta a capacidade de barganha do partido nos estados e incomoda o próprio PSDB, parceiro nos oito anos de governo Fernando Henrique e hoje, na oposição à gestão Lula. Além da possibilidade de ter prefeitura e governo em São Paulo, o PFL sonha com a vice-presidência na chapa tucana ao Palácio do Planalto e cobra do aliado apoio à candidatura do ex-deputado Guilherme Afif Domingos à sucessão de Alckmin.

Os pefelistas já apresentaram uma série de reivindicações ao PSDB. Querem que o vice tenha um papel efetivo, não seja apenas decorativo, num eventual governo Serra ou Alckmin. Consideram que o senador Marco Maciel (PE) foi o vice ideal para o presidente Fernando Henrique Cardoso não para o partido: não teve função específica, não criou problemas, mas pouco fez pelo PFL. Os tucanos tendem a concordar com essa tese. Já com a segunda, não há acordo no horizonte.

- Será quase impossível o PSDB não ter candidato em São Paulo - ratificou o líder do partido no Senado, Arthur Virgílio (AM), lembrando que hoje as pesquisas de opinião feitas em São Paulo indicam que 35% do eleitorado tende a votar num candidato a governador indicado por Geraldo Alckmin.

- Independentemente de qualquer coisa, o PSDB terá candidato em São Paulo. O estado não é espaço de negociação - confirma o secretário-geral tucano, deputado Eduardo Paes (RJ), descartando de vez o apoio a Afif Domingos.

Ontem, a maior preocupação dos tucanos era demonstrar que o anúncio de Alckmin de concorrer não representa risco à unidade do partido. O PSDB no momento trabalha com a idéia de que o nome preterido no partido seria o comandante da campanha do escolhido, numa tentativa de mostrar que a unidade continua. O governador paulista disse a um senador do seu partido que não agiu de forma premeditada, mas simplesmente respondeu a perguntas da imprensa. No entanto, gostou do efeito de suas declarações.

A avaliação tucana no Congresso era a de que Alckmin agiu corretamente ao se lançar. E que Serra também acerta ao ficar calado. O problema, nos próximos meses, será administrar as doses de eloqüência e silêncio de ambos.