Título: Fome de Brasil
Autor: Patrícia Duarte
Fonte: O Globo, 11/01/2006, Economia, p. 23

País capta no exterior US$1 bi em bônus que vence em 2037. Demanda supera US$ 3 bi

O governo federal aproveitou o bom momento do país no mercado internacional e, na primeira operação externa de 2006, captou ontem US$1 bilhão em bônus com vencimento em 2037, o Global 37. Como o risco-Brasil está no menor patamar da História, o Tesouro conseguiu emitir os papéis com spread - diferença em relação ao título americano, a referência do mercado - de 295 pontos centesimais, o mais baixo desde a renegociação da dívida externa, em 1997. Segundo instituições financeiras, a demanda pelo bônus superou US$3 bilhões, sobretudo de investidores da Europa e dos Estados Unidos.

A operação anterior, de US$500 milhões, feita em novembro do ano passado, foi fechada com spread de 362 pontos centesimais. Os recursos captados ontem servirão para quitar vencimentos da dívida externa em 2006 e 2007, dos quais US$3,5 bilhões já tiveram a captação antecipada no ano passado. A estratégia para o endividamento é alongar ao máximo o perfil do débito com o menor custo.

- É uma operação longa, com custo menor, reflexo do excelente cenário externo para o país - afirmou o superintendente de renda fixa internacional do banco Banif de Investimentos, Alexandre Chauar.

Este ano vencem US$ 5,8 bi da dívida

Para Chauar, o Tesouro acertou ao aproveitar as condições mais favoráveis ao Brasil no mercado internacional, com a forte demanda por títulos públicos e privados brasileiros. Também os dados econômicos considerados mais sólidos, como inflação sob controle, tornaram a captação adequada. Para ele, o fato de o governo não ter emitido mais Global 37 ontem foi simplesmente por não haver necessidade de caixa. As reservas internacionais, por exemplo, estão em aproximadamente US$55 bilhões, nível considerado bom pelo mercado.

Os recursos com a venda do Global 37 entrarão no caixa do governo, fortalecendo as reservas, no próximo dia 18. Nessa data haverá a liquidação financeira da operação de emissão dos bônus, que foram colocados no mercado ontem a 94,856% de seu valor de face, informou o Tesouro.

Nos próximos dois anos, o Brasil tem uma dívida de US$11,8 bilhões vencendo, mas já decidiu que resgatará apenas US$2,8 bilhões. Para os US$9 bilhões restantes serão feitas novas captações, a fim de rolar o passivo. Com a emissão de ontem, liderada por Deutsche Bank e UBS e que garantiu rendimento de 7,557% ao ano para os investidores, o governo já conseguiu US$4,5 bilhões para a rolagem, ou 77,6% do total previsto somente para 2006. Este ano, segundo o Tesouro, vencem US$5,8 bilhões da dívida externa pública brasileira e, em 2007, outros US$6 bilhões.

Ao todo, no fim de 2005 (último dado disponível), a dívida externa pública era de US$61,1 bilhões e a privada, de US$79,2 bilhões.

- O Brasil deve continuar captando este ano, aproveitando o bom momento, com custos mais baixos - acrescentou Chauar, do Banif.

O Global 37 pode ser considerado o bônus desse perfil com maior prazo de vencimento emitido pelo país. Apesar de o governo ter colocado no mercado outro bônus com vencimento apenas em 2040, o Global 40, estes papéis dão ao governo o direito a uma cláusula de call, permitindo ao Tesouro recomprá-lo em 2015 por 100% de seu valor de face se assim achar necessário. Estimando que até lá o mercado continue favorável, especialistas dizem que seria provável o governo optar por essa alternativa.

COM APROVAÇÃO DO FMI, PRESIDENTE LULA DEFENDE A POLÍTICA ECONÔMICA, na página 24

SOBRE AS EMISSÕES / AS CAPTAÇÕES DO GOVERNO EM 2005 E 2006

Traduzindo o Economês

A emissão é uma forma de uma empresa ou um país conseguir recursos no mercado internacional por meio da venda de títulos. Os compradores se tornam credores e recebem juros previamente combinados. Com os títulos, o governo alonga o prazo da sua dívida, ao mesmo tempo em que testa a disposição dos estrangeiros de aplicar no país a médio e longo prazos. Uma emissão pública bem-sucedida também abre espaço para empresas captarem no exterior a prazos mais longos e taxas menores, o que estimula o crescimento e a geração de empregos.