Título: Atividade morna
Autor: Flávia Oliveira/Débora Thomé
Fonte: O Globo, 11/01/2006, Economia, p. 24

A indústria brasileira terá de crescer de 1,5% a 2% em dezembro para que o quarto trimestre de 2005 termine com crescimento frente ao terceiro. No ano passado, a produção só se expandiu nesse ritmo em duas ocasiões, ambas no primeiro semestre: em março, o avanço foi de 1,5%; em junho, de 1,7%. Não é difícil concluir que um importante termômetro da atividade econômica dá sinais consistentes de que a recuperação, se existe, é modesta. Tão modesta que os analistas começaram a rever, novamente para baixo, suas projeções para o PIB de 2005.

O avanço da produção industrial em apenas 0,2% em outubro e 0,6% em novembro frustrou os que apostavam numa recuperação mais firme da economia no fim de 2005. O resultado no bimestre sequer compensou a queda de 2,2% do setor em setembro, que provocou o resultado negativo de 0,7% no terceiro trimestre em relação ao segundo e justificou a retração de 1,2% no PIB no mesmo período.

- A indústria entrou, sim, num movimento de reação. Mas foi um movimento moderado, muito discreto diante da redução acentuada do terceiro trimestre - comenta Silvio Sales, chefe do Departamento de Indústria do IBGE.

Os resultados da produção industrial ressuscitaram o debate acerca do exagero da política monetária. Tanto na ata da reunião do Copom de dezembro quanto no relatório de inflação divulgado no finalzinho do ano, o Banco Central (BC) deixa claro que a queda do PIB no terceiro trimestre foi momentânea. Por isso, preferiu, por seis votos a dois, não acelerar o ritmo de redução da Selic, hoje em 18% ao ano.

Até a semana passada, a maioria dos analistas percebia no discurso do BC a intenção de repetir, este mês, o corte de meio ponto percentual nos juros básicos. A única possibilidade de queda de 0,75 ponto percentual seria um quarto trimestre também fraco em atividade. Foi o que a pesquisa industrial mostrou.

Em relatório divulgado ontem, o Bradesco afirma que, sob o ponto de vista da atividade, aumentou a probabilidade de um 0,75 ponto na Selic. Contudo, a alta da inflação neste primeiro trimestre atua a favor de um corte de 0,5 ponto. A consultoria GRC Visão defende a queda dos juros para 17,25% na próxima semana, bem como o economista Alexandre Maia, da GAP Asset:

- A cara deste quarto trimestre não está boa. Aquela coisa de o BC acreditar que o terceiro trimestre era um ponto fora da curva não está acontecendo. Eles superestimaram o segundo semestre e terão de reavaliar o cenário de atividade no próximo Copom.

Maia é autor do gráfico abaixo, que mostra a economia aos soluços há mais de uma década. A mesma monotonia de 2005.