Título: Com aprovação do FMI, presidente Lula defende a política econômica
Autor: Cristiane Jungblut/Martha Beck/Luiza Damé
Fonte: O Globo, 11/01/2006, Economia, p. 24

Governo pede à oposição compromisso com o crescimento em ano eleitoral

BRASÍLIA. O governo aproveitou ontem a cerimônia de celebração do pagamento antecipado da dívida de US$15,6 bilhões do Brasil com o Fundo Monetário Internacional (FMI), organizada no Palácio do Planalto, para defender seus feitos na área econômica e pedir o compromisso da oposição com a aprovação de projetos que estimulem o crescimento no ano eleitoral. Em clima de palanque, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva e o ministro da Fazenda, Antonio Palocci, discursaram e, em troca, ouviram rasgados elogios do diretor-gerente do Fundo, Rodrigo de Rato, ao desempenho do Brasil desde janeiro de 2003.

Participaram do evento ainda a linha de frente da equipe econômica - como o presidente do Banco Central (BC), Henrique Meirelles, o secretário-executivo da Fazenda, Murilo Portugal, o secretário do Tesouro, Joaquim Levy, e a diretoria do BC - e os ministros da Casa Civil, Dilma Rousseff, e Luiz Dulci (Secretaria-geral da Presidência).

Lula defendeu que o pagamento antecipado ao Fundo foi resultado de uma "política econômica coerente" e um aviso do Brasil aos brasileiros e ao mundo de que é capaz de "caminhar com as próprias pernas". Apesar de a dívida com o FMI ter sido quitada em dezembro, o presidente já havia reclamado que o governo falara pouco da decisão. O pagamento não quitou a dívida externa total, mas fez com que caísse significativamente. O débito é hoje de cerca de US$60 bilhões.

Ministro Palocci destaca o controle da inflação

Lula garantiu ainda que o cenário econômico de 2006 será diferente do de 2002:

- No que depender de mim e do governo, o cenário econômico e financeiro desse ano eleitoral será muito diferente daquele de 2002. Não permitirei que interesses eleitorais comprometam a nossa estabilidade financeira.

Já Palocci destacou que o Brasil tem conseguido manter a inflação sob controle. Ele lembrou que, pela primeira vez desde 1999, as expectativas para 2006 coincidem com a meta prevista para o ano, de 4,5%:

- Isto indica que o BC também tem tido sucesso em convencer a sociedade acerca do compromisso do governo com a inflação baixa.

O ministro também lembrou o bom desempenho das contas externas, destacando que a dívida líquida do governo federal caiu de 14,3% do PIB para 4,1% do PIB entre dezembro de 2002 e setembro de 2005. Para Palocci, o fato de o país ter feito, em 2005, sua primeira captação de recursos no exterior em reais e de o risco-país estar abaixo dos 300 pontos ilustra "a diminuição da vulnerabilidade do Brasil":

- Acredito que nesse caminho de política macroeconômicas sólidas, o Brasil atingirá o grau de investimento (nota dada pelas agências de classificação de risco a países nos quais elas recomendam investir), o que trará impacto positivo e duradouro para a nossa economia.

Mesmo diante de Dilma Rousseff, que se opõe duramente à rigidez fiscal da equipa econômica, o ministro defendeu a manutenção dessa política, que, segundo ele, é implementada sem prejuízo à política social. Disse ainda que o controle das despesas primárias correntes (sem contar juros) e a revisão dos mecanismos que controlam as despesas obrigatórias permitirão que o país aumente seus gastos na área social e invista em infra-estrutura.

Rodrigo de Rato apoiou Palocci:

- Concordo plenamente que com a avaliação de que a redução da rigidez orçamentária (do lado da receita e da despesa) liberaria recursos valiosos para atender necessidades de investimento público e de programas sociais.

Legenda da foto: RATO, DO FMI, com Lula, Palocci e Meirelles: diretor do Fundo defendeu menos rigidez orçamentária no país