Título: IBGE: INDÚSTRIA CRESCEU SÓ 0,6% EM NOVEMBRO
Autor: Mariza Louven/Patricia Eloy
Fonte: O Globo, 11/01/2006, Economia, p. 25
Fraco desempenho frustra expectativas de recuperação da economia e faz mercado prever corte maior da Selic
A produção industrial cresceu modesto 0,6% em novembro, tanto na comparação com outubro de 2005 quanto em relação ao mesmo mês de 2004, informou ontem o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). O resultado não foi suficiente para inverter a tendência de queda verificada nos trimestres encerrados em setembro, outubro e novembro, respectivamente de 1,1%, 0,4% e 0,5%. O fraco desempenho frustrou o mercado, que previa expansão de 1,1% a 1,5%, levando à revisão das projeções de corte da taxa básica de juros (Selic), de 0,5 para 0,75 ponto percentual, na semana que vem, na primeira reunião do Comitê de Política Monetária (Copom) este ano.
- A produção industrial continuou decepcionando e, hoje, o mercado acredita que apenas um corte de juros mais forte poderá fazer com que a economia reaja mais rapidamente - avalia o economista Carlos Cintra, gestor de Renda Fixa do Banco Prosper.
Saboia, da UFRJ: governo deve atuar para expandir PIB
Alexandre Póvoa, diretor da Modal Asset Management, acredita agora em uma revisão para baixo das estimativas para o crescimento do Produto Interno Bruto (PIB, conjunto das riquezas produzidas no país) de 2005. Hoje a projeção é de 2,4%.
Se o crescimento da indústria tiver sido de 1,5% em dezembro, o PIB de 2005 terá crescido 2,3%, prevê o diretor do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea), Paulo Levy. Mas apesar do impulso inicial relativamente baixo, a média de 2006 poderá chegar a 3,4%, devido ao processo de recomposição de estoques, à queda da Selic e ao aumento da demanda provocado pelas eleições. No início de 2005, as previsões eram de expansão de até 4% no PIB.
- Eu nunca tinha visto, como esta semana, o presidente Lula dizer que a taxa Selic precisa cair mais. Ele vinha sendo muito cuidadoso com isso. Mas agora é tudo ou nada e o governo deve atuar para expandir o crescimento - acredita o diretor do Instituto de Economia da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), João Saboia.
Ele estima que o crescimento do PIB de 2005 ficou mais próximo de 2%, mas espera até 3,5% para 2006, percentual que segundo o modelo do Banco Central (BC) não exerceria pressão sobre a inflação.
- Agora é preciso agir rapidamente, com um corte de pelo menos 0,75 ponto percentual na Selic em janeiro, para evitar uma nova decepção com a produção industrial nos próximos meses - reforça Póvoa.
A economista-chefe da Mellon Global Investments, Solange Srour, acha que a projeção do BC de uma alta do PIB em torno de 2,6% em 2005 ficou comprometida. Para ela, a economia cresceu apenas 2,1%.
Resultado da indústria reflete força das exportações
A reação da produção industrial em outubro e novembro, quando acumulou expansão de 0,8%, não foi suficiente para anular a queda de 2,2% ocorrida em setembro. A taxa acumulada de janeiro a novembro também ficou em 3,1%, abaixo dos 3,4% no ano até outubro. O resultado dos últimos doze meses é outro que indica desaceleração: passou de 4,1% no período encerrado em outubro para 3,5% no que terminou em novembro.
- O nível dos estoques de alguns setores talvez ainda estivesse elevado, retardando a retomada do ritmo de atividade - acrescentou o chefe da coordenação da indústria do IBGE, Silvio Sales.
A produção industrial de novembro refletiu o desempenho favorável de 15 dos 23 ramos pesquisados e também a força das exportações, que aumentaram 32,2%, apesar do câmbio valorizado. Já a principal influência negativa foi exercida pelos bens de consumo duráveis, que depois de 27 meses seguidos de taxas positivas apresentaram queda de 1,4% frente a novembro de 2004.
O recuo da produção de eletrodomésticos foi de 4,5%, com maior retração de celulares, de 23,4%. A produção de automóveis continuou em alta, de 11,1%.
- Os bens de consumo duráveis foram os que mais perderam ritmo. O comportamento deste segmento é explicado, predominantemente, pela demanda interna - disse Sales.
A produção de bens duráveis pode ter refletido ainda a concorrência dos importados, que cresceram 39,7% frente a igual mês do ano anterior.
O diretor do Ipea destaca o impacto do crescimento de 2,2% na produção de bens de capital em novembro. As compras externas desses bens tiveram aumento de 17,3%.
- Esse crescimento indica que os investimentos estão crescendo e vão levar ao aumento da produção - disse Levy.
INCLUI QUADRO: O COMPORTAMENTO DO SETOR