Título: CHILE: CAMPANHA DE ÓDIO AMEAÇA MISSÃO
Autor: Cristiane Jungblut/Eliane Oliveira/Heliana Frazão
Fonte: O Globo, 11/01/2006, O Mundo, p. 29

Para chanceler, haitianos que rejeitam eleição podem ter influenciado morte de general

SANTIAGO. O chanceler chileno, Ignacio Walker, denunciou uma "campanha de ódio" no Haiti, orquestrada por grupos que rejeitariam as eleições, o que, segundo ele, pode ter tido influência sobre a morte do general brasileiro Urano Bacellar. Walker disse que um dos objetivos da campanha é atingir o chefe da Minustah (missão das Nações Unidas no Haiti), o chileno Juan Gabriel Valdés.

- É tão tremenda a campanha de ódio deflagrada pelas rádios de um grupo contra as Nações Unidas, contra Juan Gabriel Valdés, que isto pode ter sido um dos elementos que poderiam explicar o suicídio (do general brasileiro) - afirmou o chanceler.

Para Walker, uma "chamada burguesia haitiana, ligada a setores empresariais, aparentemente se opõe ao processo eleitoral". Valdés já denunciara uma campanha de rádios privadas contra a ONU. Emissoras haviam dito que a ONU era conivente com seqüestros no país.

Nos últimos dez meses,1.900 seqüestros na capital

Fontes da polícia disseram que apesar da presença de nove mil soldados e policiais da ONU em Porto Príncipe, houve 1.900 seqüestros na capital nos últimos dez meses. Um ano e meio depois de iniciada a missão da ONU com o objetivo de reerguer o Haiti, o país continua a viver uma grave crise em que a pobreza extrema se soma à violência de grupos rebeldes. O presidente do Chile, Ricardo Lagos, declarou ontem:

- O Haiti é uma nação pobre e as eleições são indispensáveis. O Chile continuará ajudando a criar condições para que os haitianos elejam democraticamente suas autoridades.

A insegurança no país foi um dos fatores responsáveis por quatro adiamentos das eleições, marcadas sexta-feira para 7 de fevereiro.

Anteontem, Porto Príncipe foi paralisada por uma greve geral em protesto contra a onda de seqüestros, que muitos haitianos atribuem à incapacidade das forças da ONU de controlar o crime na capital. A greve foi organizada por empresários e comerciantes, com o objetivo de pressionar as Nações Unidas a agir com mais agressividade contra os rebeldes. Normalmente caótica, a capital ficou vazia.

- É claro que, como os ricos, rejeito os seqüestros - disse o vendedor ambulante Jeanne Martineau. - Mas acho que há um motivo por trás do movimento. Acho que eles fizeram a greve só porque são alvos dos seqüestradores, e não porque se importam com os pobres.

Segunda-feira, tiros foram disparados em algumas áreas da capital, segundo a polícia para pressionar as pessoas a ficar em casa e fazer greve.

Legenda da foto: CRIANÇAS BRINCAM na favela de Bel-Air, em Porto Príncipe: país afundado na miséria e na crise