Título: Baixando o tom
Autor: Ilimar Franco
Fonte: O Globo, 12/01/2006, O País, p. 2

A discussão sobre o aumento do salário-mínimo está sendo marcada por uma estranha cautela pelo governo e pela oposição. Esse bom senso generalizado é provocado pelas eleições presidenciais de outubro e, sobretudo, pela expectativa de poder da oposição. Isso está ocorrendo porque não interessa à maioria comprometer o mandato do governo que assumir em 2007.

Pela primeira vez nos últimos anos a oposição não transforma esse debate numa bandeira política. Nem mesmo os aliados, de olho na opinião pública, estão tensionando o governo. Mesmo no PT não há ninguém posando para a platéia. Até as centrais sindicais recuaram docilmente de sua proposta inicial de um mínimo de R$400. Reunidas ontem com o ministro do Trabalho, Luiz Marinho, elas passaram a negociar um acordo pelo qual o mínimo iria para R$350, sendo pago a partir de março em vez de maio.

O Orçamento da União para este ano foi elaborado prevendo um reajuste do mínimo de R$300 para R$321. O relator da Comissão de Orçamento, deputado Carlito Merss (PT-SC), informou que o pagamento desta diferença de R$29 a partir de maio implicará custo adicional de R$4,6 bilhões. Sendo que o ministro Marinho estimou que a antecipação do reajuste para março custará mais R$1 bilhão. Como a proposta também prevê um reajuste de 10% da tabela do Imposto de Renda, isso implicará uma perda de arrecadação pela União de R$900 milhões. Significa que, para viabilizar o mínimo de R$350 e o reajuste da tabela, o governo federal terá que cortar R$6,5 bilhões referentes, principalmente, aos investimentos. Trata-se de uma cifra relevante, ainda mais se for considerado que o presidente que assumir ainda terá de aprovar no Congresso a prorrogação da Contribuição Provisória sobre Movimentação Financeira (CPMF) e da Desvinculação de Receitas da União (DRU). Em tais circunstâncias, nem o governo nem a oposição querem aprovar um mínimo que possa comprometer ou criar embaraços para o presidente que assumir o mandato em janeiro de 2007. Com a proximidade das eleições todos os partidos querem vender aos eleitores a imagem de que são responsáveis. Os líderes da oposição dizem que não aprovam qualquer proposta que não tenha base no Orçamento. Eles também avaliam que o presidente Lula seria o principal beneficiário de uma batalha por um reajuste mais elevado.