Título: Deputados ameaçados de cassação manobram para adiar as votações
Autor: Maria Lima
Fonte: O Globo, 12/01/2006, O País, p. 4

Presidentes da CPI dos Correios e do Conselho de Ética se reúnem para evitar 'pizza'

BRASÍLIA. O Conselho de Ética da Câmara virou palco de uma guerra de manobras entre os parlamentares ameaçados de cassação. Nenhum deles quer que seu processo seja o primeiro a ir ao plenário depois da absolvição de Romeu Queiroz (PTB-MG).

O anúncio do presidente Ricardo Izar (PTB-SP), na véspera, de que o processo de cassação do presidente do PP, Pedro Corrêa (PE), seria o primeiro a ficar pronto, foi visto pelo PP como uma manobra para pôr Correa na linha de tiro, adiando o envio do processo do deputado Roberto Brant (PFL-MG). O deputado mineiro tem grandes chances de absolvição no plenário.

A conclusão do relatório do presidente do PP depende do depoimento do líder do partido na Câmara, Mário Negromonte (BA). Ontem de manhã, faltando dois minutos para o inicio da sessão, Negromonte comunicou, em ofício, que não poderia comparecer por causa de uma virose. Assim, o processo de Corrêa passou para o quarto lugar na fila do Conselho e o de Brant pulou novamente para primeiro da lista. Seu relatório deve ser concluído hoje e lido na próxima terça-feira.

No meio dessa confusão, o senador Delcídio Amaral (PT-MS) foi ao Conselho de Ética discutir com Izar mecanismos de cooperação para impedir a "pizza". Hoje, a CPI repassa ao Conselho uma série de documentos para ajudar na conclusão dos relatórios dos pedidos de cassação.

- Vamos conversar com os líderes partidários, dialogar e mostrar a necessidade de terminar esses processos de forma compatível com a realidade, com o que foi apurado nas investigações da CPI e do Conselho. Essas notícias de acordão já estão repercutindo muito mal. Se isso acontecer, não vamos poder andar nas ruas - disse Delcídio após o encontro.

- Vamos denunciar à nação qualquer indício de acordão. Vamos reagir - completou Izar.

Delgado: "É o modo Dirceu de operar fazendo escola"

Para obrigar o relator do processo de Corrêa, Carlos Sampaio (PSDB-SP), a marcar uma nova data para o seu depoimento, Negromonte disse no ofício enviado ao Conselho que tem interesse de ser ouvido, pois teria "ciência de fatos relevantes ao esclarecimento do caso". Caso Negromonte não seja ouvido, Corrêa pode recorrer ao Supremo Tribunal Federal (STF) alegando cerceamento de defesa. O empresário Marcos Valério disse que repassou R$4,1 milhões para o PP de Corrêa.

- Depois do Romeu Queiroz, quem for o primeiro a ir ao plenário leva um tiro na testa. O PP fez uma jogada para tirar o Pedro Corrêa da linha de tiro - disse o deputado Nélson Marquezelli (PTB-SP).

A manobra desagradou a todos no Conselho.

- Se eu não tivesse dito que o Pedro Corrêa seria o primeiro, ele teria vindo depor hoje. Mas se foi uma manobra, vamos corrigir. Podemos mudar a ordem de acordo com a entrega dos relatórios - reagiu Izar.

- É o modo José Dirceu de operar fazendo escola - completou o relator do caso, deputado Júlio Delgado (PSB-MG).

Com a manobra do PP, o deputado Professor Luizinho (PT-SP) também foi prejudicado e passou para o terceiro da lista, antes de Corrêa. O relator do seu processo é o também pepista Pedro Canedo (GO), convencido pela direção do PP a agilizar o relatório e que deve entregar hoje seu parecer. Assim, se nada for mudado, será a seguinte ordem no conselho: Brant, Wanderval Santos (PL-SP), Luizinho e Corrêa.

Legenda da foto: DELCÍDIO AMARAL (esquerda) e Ricardo Izar na reunião que discutiu a cooperação entre a CPI e o Conselho