Título: SALÁRIO-MÍNIMO PODERÁ SER DE R$350
Autor: Alan Gripp
Fonte: O Globo, 12/01/2006, O País, p. 8

Sindicalistas impõem condições, como antecipação do aumento para março

BRASÍLIA. O martelo só será batido semana que vem, mas o novo valor do salário-mínimo foi praticamente fechado ontem em R$350. O valor foi aceito tanto pelo ministro do Trabalho, Luiz Marinho, como pelos representantes de seis centrais sindicais, que negociaram ontem por cerca de três horas. O acordo só não foi fechado porque os sindicalistas impuseram duas condições ainda não aceitas pelo governo: a de que o pagamento do reajuste seja antecipado em dois meses, de maio para março deste ano; e que a tabela do Imposto de Renda seja corrigida em 10%. O governo só aceita 7% de correção da tabela e que o mínimo seja corrigido a partir de maio.

No ano eleitoral, o valor provável do novo mínimo é superior ao previsto no Orçamento de 2006 enviado ao Congresso Nacional (R$321). O relator do Orçamento de 2006, o deputado petista Carlito Merss (SC), já tinha anunciado que partirá de um piso de R$340, o que significa que o governo pode mesmo chegar aos R$350, mas seria a partir de maio. O presidente Luiz Inácio Lula da Silva deverá formalizar o novo valor na próxima quinta-feira, às 16h, quando receberá seus ex-colegas do sindicalismo no Planalto.

Paulinho ameaça não dar apoio à reeleição de Lula

Durante o encontro, as centrais sindicais, que até então só aceitavam um salário-mínimo de R$360, recuaram e aceitaram reduzir para R$350. Mas a antecipação do aumento em dois meses, segundo Luiz Marinho, representaria um gasto de cerca de R$1 bilhão e ainda está fora das possibilidades do governo. Os sindicatos querem também que, a partir de 2007, o aumento seja pago a partir de janeiro. A nova proposta foi comunicada ontem, ainda durante a reunião, por telefone, ao presidente Lula.

Ao fim do encontro, o presidente da Força Sindical, Paulo Pereira da Silva, o Paulinho, sugeriu que, se o acordo não for fechado nas condições impostas pelas centrais sindicais, os trabalhadores podem não aderir a uma possível campanha de reeleição de Lula. Ele próprio disse que não apoiará Lula de jeito algum.

- Um acordo poderia ser muito bom para Lula no ano eleitoral, até porque ele não vai cumprir a promessa de dobrar o mínimo. Seria uma boa desculpa - disse Paulinho, que contou ter sugerido ao ministro Luiz Marinho que deixasse de lado nas negociações os ministros da área econômica:

- Quem pensa só em economia, pensa só em número.

Marinho, por sua vez, disse que a questão eleitoral não vai interferir nas negociações:

- Não estamos discutindo eleições, até porque o presidente nem disse ainda se é candidato. O acordo tem que caber no Orçamento. Não vai ser feito na marra porque facilitaria ou não a reeleição.

Palocci descarta correção da tabela do Imposto de Renda

Mas apesar das novas exigências e da provocação eleitoral, o ministro disse que o acordo está perto de ser fechado:

- Essa proposta (das centrais sindicais) se aproxima dos limites possíveis, mas ainda não chegamos lá.

Segundo um assessor do Palácio do Planalto, o presidente Lula quer dar o maior aumento possível ao salário-mínimo, mas isso depende se haverá ou não correção da tabela do Imposto de Renda. A pressão é para que haja um aumento do mínimo e uma correção do IR, para agradar à classe média. Mas o ministro da Fazenda, Antonio Palocci, já disse que a prioridade deveria ser um bom reajuste para o mínimo e deixar de lado a correção. Lula quer decidir a questão antes do dia 20, porque iniciará uma série de viagens pelo país e pelo exterior até o fim do mês, quando o Orçamento estará em discussão no Congresso.

O presidente da Força Sindical, Paulo Pereira da Silva, disse que o pagamento do reajuste no mês de janeiro é uma antiga reivindicação dos trabalhadores e que, para a entidade, é uma prioridade.

Além de Luiz Marinho, participaram da reunião com os representantes das centrais sindicais os ministros Nelson Machado (Previdência) e Luiz Dulci (Secretaria Geral da Presidência da República). O encontro chegou a ser interrompido para que os ministros telefonassem para o presidente Lula, que reservou um espaço em sua agenda para recebê-los.

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Legenda da foto: REPRESENTANTES DAS centrais sindicais e o ministro Luiz Marinho discutem o novo salário-mínimo