Título: EMBRAER: BRASIL INVESTIGA DENÚNCIA DE CHÁVEZ
Autor: Eliane Oliveira e Alexandre Galante
Fonte: O Globo, 12/01/2006, Economia, p. 25

Amorim diz que já havia tido indicações de que EUA estariam impedindo venda de aviões brasileiros à Venezuela

BRASÍLIA e RIO. O ministro das Relações Exteriores, Celso Amorim, afirmou ontem que o governo brasileiro já está investigando a denúncia feita pelo presidente da Venezuela, Hugo Chávez, de que os Estados Unidos estariam dificultando a venda de aviões da Embraer para aquele país. Amorim disse que já havia recebido indicações de que o problema estava acontecendo e ressaltou que, se confirmada, a medida "é contraproducente".

- O Brasil é contra esse tipo de restrição, sobretudo porque não há sanção do gênero prevista em acordos internacionais. Os aviões que vendemos não têm poder ofensivo que possam ameaçar a segurança da maior potência do mundo - afirmou o chanceler.

Na terça-feira, Chávez disse à imprensa venezuelana que seu governo está impedido de assinar qualquer contrato com a Embraer porque, como a tecnologia para a fabricação das aeronaves é americana, os EUA não autorizam a empresa brasileira a concretizar a operação. O presidente venezuelano destacou que a compra chegou a ser suspensa e revelou já ter conversado sobre o tema várias vezes com o presidente Lula. Chávez avisou que poderá recorrer a outros fornecedores, como a China, que também fabrica aviões de treinamento, caças e bombardeiros.

- Ainda preciso conversar sobre o assunto detalhadamente com o presidente Lula. Tivemos indicações, mas estamos investigando. O fato é que não se pode restringir uma operação por causa de transferência de tecnologia - enfatizou Amorim, acrescentando que a Embraer já vendeu essas aeronaves à Colômbia.

A Embraer se limitou ontem a dizer que não comentará o assunto.

Venda de equipamento militar é um tema sensível

No comércio exterior, as negociações para a venda de equipamentos militares sempre foram um assunto delicado, principalmente no Brasil. Na década de 80 o país foi um grande exportador de carros de combate e muitos clientes do Brasil não tinham boas relações com os EUA, como a Líbia, por exemplo.

Mas tanques não causam tanto preocupação quanto aviões equipados com eletrônica de última geração, como os aviões Super Tucano que a Venezuela tem interesse em adquirir.

O Super Tucano pode ser considerado como caça leve turboélice. É equipado com eletrônica de bordo de 4ª geração, idêntica à dos caças mais modernos da atualidade, o que garante precisão cirúrgica em missões de ataque ao solo com bombas guiadas e mísseis. O avião é ideal para operações antiguerrilha e patrulhamento de fronteira, pois possui capacidade de visão noturna por infravermelho.

O avião é 'made in Brazil', mas os componentes não

A Embraer produz o Super Tucano mas não domina toda a tecnologia usada nele. O motor turboélice é canadense, mas a detentora das patentes é a empresa americana Pratt & Whitney. Os assentos ejetáveis são britânicos e a eletrônica embarcada, israelense.

Um eventual embargo dos EUA ao Brasil poderia deixar a Embraer sem componentes para produzir não só o Super Tucano, mas também outros aviões da sua linha comercial que usam peças americanas.

Legenda da foto: O SUPER TUCANO da Embraer usa eletrônica israelense de última geração e motor de patente americana