Título: LAUDO DA NECROPSIA CONFIRMA SUICÍDIO DE BACELLAR
Autor: Cristiane Jungblut/Eliane Oliveira/Helena Celestin
Fonte: O Globo, 12/01/2006, O Mundo, p. 27

Governo se irrita e Exército contesta resultado

BRASÍLIA. O diretor-geral da Polícia Civil do Distrito Federal, Laerte Bessa, confirmou, na manhã de ontem, após a necropsia no corpo do general Urano Bacellar, que o militar se suicidou. Bessa chegou marcar uma entrevista para anunciar o resultado do laudo preliminar, mas cancelou por ordem do Palácio do Planalto, que reprovou sua iniciativa.

Segundo Bessa, a necropsia revela que, pela trajetória da bala, é possível dizer que o general se matou. O tiro foi disparado na boca, de baixo para cima, passando pelo palato e atravessando a cabeça na parte posterior. Outra evidência de suicídio é a comprovação de que não houve luta corporal, ou seja, o general não reagiu à ação de alguém contra ele.

- Ninguém levaria um tiro na boca sem oferecer o mínimo de resistência - disse Bessa.

O diretor chegou a dizer, numa entrevista pela manhã, que havia pólvora na mão do general. Mas na parte da tarde, voltou atrás e afirmou que somente em dez dias, após exames mais detalhados, será possível confirmar a presença da substância.

Outra evidência de suicídio é que a pistola do disparo, pertencente a Bacellar, foi encontrada em sua mão. Os legistas confirmaram também que o buraco feito pela bala na cabeça do general é de um tamanho compatível com o projétil de uma arma 9 milímetros. A necropsia foi realizada pelos legistas forenses Eduardo Reis e Malthus Galvão, do Instituto de Medicina Legal (IML) do Distrito Federal.

As declarações de Bessa foram mal recebidas em todo o governo: na área militar, no Ministério da Defesa, e civil, no Ministério das Relações Exteriores e no Palácio do Planalto. O general Jorge Armando Félix, ministro-chefe do Gabinete de Segurança Institucional (GSI), ficou irritadíssimo. O desejo do governo era não divulgar as conclusões antes que o laudo fosse enviado para a Organização das Nações Unidas (ONU).

O comandante-geral do Exército, general Francisco Albuquerque, disse ontem, após o sepultamento do general no Memorial do Carmo, no Rio, que ainda é cedo para o Exército admitir que o comandante das tropas de paz no Haiti tenha se suicidado. Segundo o general, o laudo do IML não é definitivo.

- O Exército não considera como definitiva a hipótese do suicídio. Tem coisas vindo por aí. Vamos aguardar porque sempre que a gente se adianta, algumas coisas podem acontecer e a gente pode caminhar na direção errada - disse Albuquerque, acrescentando que Bacellar era uma pessoa equilibrada. - Se eu tivesse notado nele algum sintoma estranho o teria afastado.

COLABOROU: Ana Claudia Costa