Título: FALTA BOM SENSO
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Fonte: O Globo, 13/01/2006, Opinião, p. 6

O Brasil tem 90% de sua capacidade de geração de eletricidade provenientes de usinas hidrelétricas. Ainda há muitos aproveitamentos hidráulicos a serem explorados - os de maior potencial estão no Centro-Oeste e na região amazônica.

Para otimizar esses aproveitamentos, geralmente é preciso construir barragens que represem considerável volume de água, para garantir um fluxo constante pelas turbinas que acionarão os geradores elétricos.

No passado, várias represas foram feitas sem se levar em conta os seus devidos impactos ambientais. Embora seja uma preocupação recente no mundo, o Brasil reúne hoje experiência suficiente nesse campo para continuar construindo usinas hidrelétricas minimizando os impactos ambientais.

A hipótese de não se construir mais usinas está totalmente descartada, pois sem energia a economia brasileira não crescerá e o país perpetuará seus graves problemas sociais. Mas também não se pode cometer o erro de inundar terras e formar reservatórios desconsiderando-se os impactos ambientais permanentes.

Desde que o Brasil passou a atrair grupos de investidores privados para a geração de energia elétrica, as exigências vêm se multiplicando para o licenciamento das obras. Os projetos têm encarecido, e nem sempre esse custo é merecido.

As compensações ambientais exigidas têm superado por larga margem os impactos negativos das barragens. Essas compensações vão desde a recuperação da fauna e da flora no entorno das represas, como até iniciativas de caráter social (saneamento básico de comunidades próximas, construção de escolas, moradias, estradas).

Já existe, portanto, uma razoável base para entendimento, capaz de conciliar uma legislação ambiental necessariamente mais exigente com a necessidade de se investir na expansão do setor elétrico. Porém, não é o que vem se verificando na prática. É com razão que o presidente da Eletrobrás, Aloisio Vasconcellos, queixa-se da radicalização dos órgãos responsáveis pelo licenciamento ambiental. De fato, não é possível deixar de se gerar energia porque vaga-lumes podem ficar estressados.

Burocracia ambiental continua a emperrar o setor elétrico