Título: INDÚSTRIAS PREVÊEM DEMISSÕES NESTE TRIMESTRE
Autor: Ronaldo D"Ercole
Fonte: O Globo, 13/01/2006, Economia, p. 25
Pesquisa da FGV mostra que 32% das empresas pretendem fechar vagas. Apenas 11% falam em contratar
SÃO PAULO. Embora apostem em uma nova aceleração na produção nos próximos meses, as indústrias trabalham com uma perspectiva muito ruim para os empregos no setor. Prévia da Sondagem Conjuntural da Indústria de Transformação, divulgada ontem pela Fundação Getulio Vargas (FGV), mostra que, das 489 empresas consultadas, 32% pretendem demitir mais do que contratar neste primeiro trimestre, contra apenas 11% que planejam abrir mais vagas do que fechar. Juntas, essas empresas empregam 513 mil pessoas, com faturamento anual de R$200 bilhões.
O saldo negativo, de 21 pontos, é o pior resultado da série da FGV desde janeiro de 1998, quando a economia brasileira, depois dos estragos da crise da Ásia, voltaria a ser castigada pela turbulência decorrente da moratória da Rússia. O indicador também ficou abaixo da média histórica dos últimos nove anos, que foi de oito pontos percentuais negativos.
- Parece um prenúncio de que o ano não vai ser muito bom para o emprego industrial. A indústria voltará a produzir mais, mas vai demorar para voltar a contratar pessoal - disse o coordenador de sondagens conjunturais da Instituto Brasileiro de Economia (Ibre), da FGV, Aloísio Campelo.
Segundo a prévia, o percentual de empresas que esperam um aumento da produção neste primeiro trimestre (38%) foi maior do que o das que esperam uma queda (34%), com saldo positivo de quatro pontos. A média histórica desse indicador nos últimos nove anos é de dois pontos positivos.
- Há uma clara melhora nas perspectivas da indústria para a produção nos próximos meses - observou Campelo.
Quanto às expectativas do setor para o comportamento da demanda entre janeiro e março, 26% apostam em aumento, contra 30% que esperam queda. O saldo, de quatro pontos negativos, também é melhor que a média histórica, de oito pontos negativos.
Demanda é considerada fraca por 20% dos empresários
Perguntados sobre a situação atual dos negócios, os empresários revelaram insatisfação. A situação atual foi considerada boa por 16% dos entrevistados e fraca por 22%. O saldo, de seis pontos negativos, é o pior desde janeiro de 1999, quando a avaliação positiva era de 5% e a negativa, de 41%. O resultado também ficou abaixo da média para esta época do ano, de dois pontos negativos.
O atual nível de demanda por bens industriais foi considerado forte por 9% dos empresários e fraco por 20%. O saldo de 11 pontos negativos é igual à média dos últimos anos.
- O saldo funciona como um termômetro, e nesse caso mostra que o nível de demanda está fraco, típico de períodos em que a economia cresce pouco - afirmou o coordenador da pesquisa.
A sondagem mostra também que as indústrias ainda buscam equilibrar seus estoques frente à demanda. Para 3% os estoques estão insuficientes, enquanto 12% disseram ter estoques excessivos. O saldo negativo de nove pontos é um pouco pior que a média dos últimos anos, de sete pontos negativos.
- O indicador ainda está um pouco abaixo da média, mas converge para um ponto de equilíbrio. A consciência da desaceleração econômica de 2005 deve fazer as empresas ajustarem melhor a produção este ano - disse Campelo.