Título: PESQUISA MOSTRA BACHELET 5 PONTOS À FRENTE
Autor: Renato Galeno
Fonte: O Globo, 13/01/2006, O Mundo, p. 30

Campanha chilena termina com showmício em Santiago e candidata do governo consolida vantagem sobre rival

SANTIAGO. Em comícios para milhares de pessoas, os dois candidatos à Presidência do Chile, a governista Michelle Bachelet, de esquerda, e o opositor Sebastián Piñera, de direita, encerraram ontem à noite suas campanhas, quebrando por algumas horas o clima de apatia popular que cerca a eleição. Os socialistas tiveram, além das apresentações de cantores espanhóis de sucesso num showmício no centro de Santiago, um segundo motivo para festejar: uma pesquisa colocou Bachelet cinco pontos percentuais à frente de Piñera.

A pesquisa do instituto Mori revelou que Bachelet tem 45% das intenções de voto, contra 40% de Piñera. Descontando quem disse que votará em branco, está indeciso ou anulará o voto, Bachelet teria 53% contra 47%. Com margem de erro de 3%, a vitória da candidata do presidente Lagos estaria próxima.

- Bachelet consolidou uma distância em torno de 4 a 6 pontos. Não se pode dizer que já venceu, mas seria necessário que uma parcela muito grande dos indecisos votasse em Piñera. A vitória de Bachelet não é certa, mas é provável - disse Gonzalo Muller, diretor de Ciência Política da Universidade do Desenvolvimento, de Santiago.

Outros analistas preferem a cautela.

- Sabe-se que a diferença entre os dois candidatos deve ser de cinco pontos. Mas é preciso cuidado, pois muitas vezes as pesquisas de opinião no Chile são pouco precisas. A prova de que ainda há certa indecisão é os candidatos estarem percorrendo várias cidades a cada dia em busca de votos - disse o analista Ricardo Israel.

Jogada política de Piñera se volta contra candidato

Segundo a diretora do Mori, Marta Lagos, as notícias ruins para Piñera não terminam aí. Os eleitores de direita estariam divididos. No primeiro turno, Piñera, da Renovação Nacional (RN, direita liberal), derrotou Joaquín Lavín, da União Democrata Independente (UDI, direita pinochetista), por só 150 mil votos (em oito milhões). Mas muitos partidários da UDI não deverão votar em Piñera agora apesar da aliança entre os partidos:

- A eleição será decidida por quem ficar em casa. O voto fiel da UDI ficará. Há um eleitorado de direita que não votará em Piñera.

Bachelet e Piñera tiveram dificuldades com as composições políticas. A ex-ministra, que fez uma campanha personalista no primeiro turno, teve de buscar apoio na Concertação, a aliança entre socialistas, social-democratas e democratas-cristãos que governa o Chile.

- Ela teve de recorrer aos partidos, que tiveram grande participação na campanha, pois os políticos sabem onde estão os votos - diz Israel.

A participação do governo na campanha de Bachelet tornou-se o principal tema da campanha de Piñera, com acusações de uso da máquina estatal. Mas dois fatores o atrapalharam. A popularidade do governo aumentou de 70% para 75%, e uma jogada política do candidato acabou se voltando contra ele. No debate da semana passada, Piñera desafiou Lagos a pôr em votação a proposta de dar direitos constitucionais aos povos indígenas e disse que sua coligação RN-UDI votaria a favor. Imediatamente o presidente enviou o projeto de lei para o Congresso. Mas os deputados da UDI se abstiveram, impedindo sua aprovação.

Milhares de jovens tomaram a Alameda, principal rua da capital chilena. No palanque, os espanhóis Miguel Bosé e Ana Belén cantaram para a multidão. A única política a falar foi Bachelet. Já Piñera encerrou a campanha num comício, bem mais modesto, em Valparaíso.

Legenda da foto: BACHELET FAZ o sinal da vitória em Santiago: eleição parece certa, mas alguns analistas recomendam cautela