Título: HAITI: BRASIL QUER AÇÃO DE LONGO PRAZO
Autor: Eliane Oliveira/Helena Celestino
Fonte: O Globo, 13/01/2006, O Mundo, p. 30

País é convidado pela ONU para continuar no comando da missão militar

BRASÍLIA. A presença de soldados brasileiros no Haiti deverá durar mais tempo do que prevê o vice-presidente e ministro da Defesa, José Alencar. Segundo o assessor para Assuntos Internacionais da Presidência da República, Marco Aurélio Garcia, o Brasil não pretende sair do país logo após as eleições, marcadas para o próximo dia 7 de fevereiro. O presidente Lula, afirmou Garcia, pensa em uma ação de longo prazo, embora uma decisão final a respeito dependa, principalmente, das necessidades a serem apresentadas pelo novo presidente haitiano.

- Não é intenção do governo sair logo após as eleições. O presidente Lula defende a idéia de que devemos contribuir para a estabilização do país. Nossa visão é de longo prazo, embora o tempo de permanência ainda não esteja definido - disse Garcia ao GLOBO.

Num sinal de apoio ao país, o Departamento de Missões para Manutenção da Paz da ONU convidou ontem o Brasil a continuar liderando as forças de paz no Haiti. Jean-Marie Guéhenno, chefe do departamento, elogiou o comprometimento do Brasil com o Haiti.

Anteontem, Alencar disse que as tropas deverão sair do Haiti até o final do ano. A declaração não foi confirmada pelo Itamaraty. Para o ministro das Relações Exteriores, Celso Amorim, o prazo terá de ser decidido em conjunto e vai depender da evolução no Haiti depois do pleito.

- Não podemos fazer como aconteceu com outros países, em que a ONU se instalava, ficava por um tempo e depois ia embora. Isso já ocorreu no Haiti - disse Marco Aurélio Garcia.

Há outro fator importante que pesará na decisão do governo brasileiro: no início do ano passado, a comunidade internacional se comprometeu a repassar US$1 bilhão para que a missão de paz pudesse concluir a reconstrução no Haiti, mas quase nada foi liberado. Em conversa com o subsecretário para Américas do Departamento de Estado dos EUA, Thomas Shanon, Amorim reclamou da demora. Shanon respondeu que seu país já havia enviado US$4 milhões. O governo espera que a ONU decida quem será o novo comandante. O Brasil indicou os nomes dos generais José Elito Carvalho de Siqueira, atual comandante da 6ª Região Militar, em Salvador; e Jeannot Jansen da Silva, vice-chefe do Departamento de Logística do Exército.

COLABOROU Helena Celestino

Legenda da foto: MULHER CHORA morte do filho, segundo ela atingido por forças da ONU