Título: ÁLCOOL: GOVERNO AGORA NEGOCIARÁ PREÇOS COM SETORES DE DISTRIBUIÇÃO E REVENDA
Autor: Patricia Duarte e Ramona Ordoñez
Fonte: O Globo, 14/01/2006, Economia, p. 24

Após acordo com usineiros, autoridades querem conter custo nas bombas

BRASÍLIA e RIO. Depois do acordo fechado com os produtores de álcool na última terça-feira, o governo federal conversará, na próxima semana, com representantes do segmento de distribuição e revenda do produto, para discutir os preços cobrados ao consumidor. Técnicos dos ministérios da Agricultura e de Minas e Energia participarão do encontro para debater as margens de lucro na comercialização de álcool. A idéia é evitar que os preços subam mais no período de entressafra de cana-de-açúcar.

¿ Vamos pedir a contribuição de toda a cadeia produtiva para que o álcool combustível seja vendido a um preço razoável na entressafra ¿ afirmou o diretor do Departamento de Cana-de-Açúcar e Agroenergia do ministério, Ângelo Bressan.

O Ministério da Agricultura reafirmou, em comunicado distribuído ontem, esperar que o acordo fechado entre o governo e os produtores ¿ que fixou o preço do álcool anidro (adicionado à gasolina) em R$1,05 por litro faça com que o preço do álcool hidratado (usado diretamente como combustível) também caia.

As distribuidoras e os revendedores temem que o acordo feito pelo governo federal com os usineiros acabe provocando um aumento dos preços do álcool hidratado nas bombas. Isto porque o acordo não especifica o teto para o álcool hidratado, o que abre espaço para um possível aumento do preço do combustível, que, até o acordo, custava R$1,02.

Segundo fontes do ministério, uma das razões para o preço do hidratado estar mais baixo que o do anidro é que a oferta tinha crescido, por causa do aumento da demanda. Cada vez mais consumidores compram veículos que podem usar tanto álcool quanto gasolina. Algumas distribuidoras estavam misturando água ao anidro e vendendo o produto como hidratado. Desde a semana passada, é obrigatória a adição de corante laranja no anidro para evitar fraudes. Espera-se, com isso, que o preço suba.

Distribuidoras e postos vão propor zerar PIS/Cofins

Em nota divulgada ontem pelo Ministério da Agricultura, os técnicos lembram que, historicamente, os preços levantados pela Escola Superior de Agricultura Luiz de Queiroz (Esalq) mostram que a cotação do litro do álcool hidratado tem deságio entre 5% e 15% em relação ao do anidro.

¿ Hoje, o preço razoável do litro do álcool hidratado, que tem um percentual de 6% a 8% de água, deve oscilar entre R$0,95 e R$1 ¿ afirmou Bressan.

Ele explicou que o preço do álcool anidro (misturado à gasolina) é mais alto por causa de seu processo de desidratação:

¿ Esperamos que o mercado mantenha a mesma relação histórica de preços.

Segundo o Ministério da Agricultura, o presidente da União da Agroindústria de São Paulo (Unica), Eduardo de Carvalho, enviou ontem carta ao Palácio do Planalto reiterando o acordo de fixar o preço do litro do álcool anidro em R$1,05.

Distribuidoras e postos vão propor zerar a alíquota de PIS/Cofins, que representa 8,2% do preço do hidratado. A medida representará uma redução da ordem de R$0,10 por litro. Para isso só falta regulamentar a lei nº 10.833, de dezembro de 2003, que trata do assunto. O PIS/Cofins representa cerca de R$400 milhões anuais, dos quais apenas a metade é arrecadada.