Título: PALOCCI DESAUTORIZA MANIFESTAÇÕES DE INTEGRANTES DO GOVERNO CONTRA JUROS
Autor: Martha Beck
Fonte: O Globo, 14/01/2006, Economia, p. 27

Nota de ministro foi motivada por críticas feitas por secretário do Tesouro

BRASÍLIA. Para aqueles que gostam de atacar a política monetária, especialmente quem faz parte da equipe econômica, a ordem agora é ficar em silêncio para evitar problemas com o ministro da Fazenda, Antonio Palocci. Ele desautorizou ontem, publicamente, o secretário do Tesouro Nacional, Joaquim Levy. Em entrevista ao jornal ¿Valor Econômico¿, Levy criticou a forma como o Banco Central (BC) conduz a política de juros.

Em nota à imprensa, Palocci afirmou que ¿desautoriza e desaconselha quaisquer manifestações públicas de membros de sua equipe sobre temas fora da competência funcional dos órgãos que dirigem¿.

A nota também ressalta que não há desconforto no Ministério da Fazenda com relação à política de juros do BC:

¿O ministro Palocci tem manifestado publicamente, por diversas ocasiões, seu total apoio à política monetária que vem sendo praticada pelo Banco Central, que considera apropriada¿, afirma o texto.

Na entrevista publicada ontem, Levy questiona as expectativas ¿colossais¿ da taxa Selic para os próximos 12 meses, ¿se os dados do último relatório de mercado do BC apontam que os analistas acham que a inflação estará em 4,5%, as contas correntes continuarão superavitárias, o superávit primário esperado é o da meta de 4,25% do PIB e o crescimento econômico deverá ser de 3,5%?¿

O secretário afirma ainda:

¿ Que diabo de aversão a risco é essa, que leva a expectativa de juros reais de dois dígitos e que o BC não aponta?

Levy é conhecido por suas divergências com o BC e especialmente com o diretor de Política Econômica, Afonso Bevilaqua, considerado um dos integrantes mais conservadores da instituição. Mas a avaliação dentro do Ministério da Fazenda é que a conduta do secretário do Tesouro foi inapropriada.

¿ O pior foi ele (Levy) ter dado a entender que existe um desconforto entre a Fazenda e o Banco Central ¿ disse um técnico da equipe econômica.

Apesar do problema, Levy ainda é bem-visto por Palocci

Apesar de Palocci ter ficado irritado com as declarações de Levy, ele ainda considera o secretário um dos melhores quadros da Fazenda. Recentemente, Levy foi convidado para assumir uma diretoria no Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID), mas preferiu permanecer no Tesouro para ajudar Palocci a enfrentar a crise política e os bombardeios que a política econômica vinha sofrendo da oposição e de dentro do próprio governo. Levy foi sondado pelo BID para assumir a gerência de Planejamento Estratégico, com a possibilidade de, posteriormente, chegar à vice-presidência de Finanças e Administração.