Título: GOVERNO E FIÉIS SE ACUSAM POR TRAGÉDIA SAUDITA
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Fonte: O Globo, 14/01/2006, O Mundo, p. 31
Número de mortos esmagados por multidão no ritual de apedrejamento simbólico do diabo em Meca sobe para 363
MECA. Um dia depois do acidente que deixou 363 mortos esmagados no meio de uma multidão de milhares de pessoas que se atropelaram durante um ritual islâmico nas cercanias de Meca, o governo da Arábia Saudita e os peregrinos se culparam mutuamente pela tragédia.
O morticínio ocorreu na Ponte Jamarat, no Vale de Mena, uma localidade perto de Meca onde, segundo a tradição muçulmana, o profeta Maomé apedrejou o diabo. Durante a peregrinação anual à cidade sagrada saudita, os fiéis repetem o ritual do fundador do islamismo jogando pedras em três paredes simbolizando o diabo.
Principal clérigo acusa fiéis de desordem
Segundo as autoridades, 600 mil pessoas se encontravam no local ontem. Contrariamente à orientação, muitos peregrinos estariam carregando suas bagagens, dificultando ainda mais a passagem pela ponte.
¿ É doloroso para nós que tantas pessoas tenham morrido, mas devemos ressaltar que as forças de segurança evitaram muitos outros desastres de acontecerem e salvaram muitas vidas ¿ disse o ministro do Interior, príncipe Nayef bin Abdul-Aziz.
O principal clérigo do reino, o grande mufti Abdulaziz al-Sheikh, acusou os peregrinos de serem desordeiros. As vítimas identificadas até agora incluem 44 indianos, 37 paquistaneses e 28 sauditas. Há vítimas de pelo menos outros 23 países.
Um porta-voz do Ministério do Interior alegou que os peregrinos romperam um cordão de segurança, iniciando a tragédia ao tropeçarem nos que iam caindo. Segundo Mansour al-Turki, a força da multidão era tamanha que os policiais ficaram sem ter como agir. Dezoito deles ficaram feridos. Muitos corpos ficaram tão desfigurados que sua identificação foi prejudicada, pois uma grande quantidade de peregrinos não levava documentos.
Por sua vez, fiéis muçulmanos disseram que o governo saudita não tomou as medidas necessárias para garantir a segurança das centenas de milhares de pessoas que participam do ritual de apedrejamento do diabo na Ponte Jamarat. Jornal diz que governo deve repensar organização
Nos últimos anos, acidentes graves têm ocorrido com freqüência durante o Hajj, a peregrinação dos fiéis a Meca.
¿ Parece que havia mais forças de segurança este ano, mas elas não estavam muito organizadas ou tinham qualquer plano ¿ acusou o peregrino egípcio Jihad.
O colunista Raqiya Shabib, do jornal ¿Al-Hayat¿, cobrou ações do governo.¿Para que isto não ocorra de novo, a organização tem de ser repensada na área de Jamarat em particular¿.
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