Título: JÁ VALE TUDO NA DISPUTA NO RIO
Autor: Maiá Menezes
Fonte: O Globo, 15/01/2006, O País, p. 3

Grupo de Cesar Maia conversa com o de Garotinho e esquerda cogita apoiar Crivella

As movimentações rumo à sucessão estadual no Rio revelam aproximações inusitadas. O PMDB do ex-governador Anthony Garotinho e o PFL do prefeito Cesar Maia conversam sobre uma possível aliança, mesmo que branca. O PRB do senador Marcelo Crivella tenta atrair partidos como PSB, PCdoB e PDT para seu palanque. E o PT admite conversar com Crivella, bispo e herdeiro da Igreja Universal do Reino de Deus que tenta, nestas eleições, se descolar do discurso evangélico.

O PFL de Cesar, que já falou cobras e lagartos de Garotinho, acena para o senador Sérgio Cabral, pré-candidato do PMDB a governador. O ex-governador deu aval para as conversas. Já houve pelo menos três encontros entre Cabral e integrantes da cúpula pefelista no Rio sobre as eleições de outubro. O pré-candidato do PFL ao governo, Eider Dantas (secretário municipal de Obras), lançado por Cesar, assume a simpatia pela chapa anunciada pelo PMDB.

¿ São conversas embrionárias, que não significam ainda aliança. Quando dois partidos têm pré-candidato, é importante conversar, mas em princípio é difícil ter aliança. Sempre esbarra no fato de ninguém querer ser vice de ninguém. Eu me dou bem com o (Jorge) Picciani e com o Cabral ¿ diz Eider.

Garotinho confirma contatos com Cesar

Cabral, com um discurso independente em relação ao casal Garotinho, retribui a cordialidade:

¿ Eu não tenho problema de manter o que está indo bem no governo Rosinha e modificar o que precisa ser modificado. Minha relação com o casal é a melhor possível. Mas tenho também boas relações com o Cesar Maia, com o Rodrigo Maia e com parlamentares do PFL. Descartar alianças neste momento é um equívoco. É obrigação do político conversar com suas forças. E o PFL é uma delas.

A assessoria do presidente regional do PMDB confirmou os encontros. Na avaliação de Garotinho, a aliança não deve se confirmar por causa do aumento no tom das críticas de Cesar ao governo do estado. O ex-governador apóia o nome de seu chefe de gabinete, Luiz Fernando Pesão, como vice na chapa de Cabral.

PMDB também cogita lançar Lessa

Os nomes do economista Carlos Lessa, responsável pelo programa econômico da pré-candidatura de Garotinho à Presidência, e da governadora Rosinha Garotinho também são cogitados no PMDB para a sucessão estadual.

O presidente da executiva regional do PFL, deputado federal Rodrigo Maia, afirma que não haverá aliança com o PMDB. Ele diz que o PFL ¿conversa com todo mundo¿:

¿ O PFL vai conversar com partidos como o PP e o PSDB. Cabral hoje é homem do Garotinho. Nessa condição, ele se torna um adversário tão relevante como Garotinho.

Cesar Maia confirmou as conversas. Mas diz que o candidato do partido é Eider Dantas:

¿ Política no Brasil deve ser atualizada a cada quinzena. Fizemos, na época, análises gerais do quadro estadual e federal.

Todos os ensaios de aliança, no entanto, dependem do resultado da votação, prevista para o fim do mês, da emenda que acaba com a verticalização ¿ regra pela qual os partidos não podem fazer, nos estados, alianças diferentes das coligações para a Presidência da República.

O senador Marcelo Crivella quer atrair socialistas, trabalhistas e comunistas para seu palanque. Ele sonha com uma amplitude de sua candidatura e reclama do preconceito a candidatos evangélicos.

¿ No estado, uma candidatura só tem chance com coligação de partidos. Só aceitaria disputa se encontrássemos com o PSB, o PDT e o PCdoB uma articulação em torno de um programa comum ¿ diz Crivella.

O líder do PSB na Câmara, deputado Alexandre Cardoso, o presidente nacional do PDT, Carlos Lupi, e a deputada federal Jandira Feghali (PCdoB-RJ) confirmaram a aproximação com Crivella.

¿ Tenho conversado dentro do partido para ampliar as alianças. A idéia é juntar o nome do Crivella, que é um homem maior que a igreja. Pode ser que o Lula suba nesse palanque ¿ diz Cardoso.

¿ Quem não está disposto a conversar não tem que estar na política. Mas queremos encabeçar a chapa, com Jorge Roberto Silveira ou Miro Teixeira ¿ afirma Lupi.

No PT há pelo menos um consenso: a escolha do ex-deputado Vladimir Palmeira como pré-candidato.

¿ Com certeza nosso partido terá candidato próprio. Mas em relação às alianças, com exceção do PFL e do PMDB, tudo é possível. Crivella inclusive ¿ afirmou o presidente do diretório regional do PT, Alberto Cantalice.

O ex-senador Artur da Távola aceitou na sexta-feira o convite do presidente da executiva regional do PSDB, Luiz Paulo Corrêa da Rocha, para ser pré-candidato. O engenheiro David Zylberstein também pleiteia a vaga. A deputada federal Denise Frossard é pré-candidata do PPS à sucessão no estado.