Título: Cerco à falsificação de reais
Autor: Patrícia Duarte
Fonte: O Globo, 16/01/2006, Economia, p. 15
Banco Central e Polícia Federal vão incrementar grupo de trabalho para combater o crime
O Banco Central (BC) e a Polícia Federal vão intensificar a troca de informações sobre falsificação de notas e moedas de real. A idéia é fortalecer um grupo de trabalho conjunto para evitar que esse tipo de crime aumente. De um lado, entra o BC com dados em nível nacional e, de outro, a PF com o combate efetivo aos falsários, tanto no Brasil quanto em países vizinhos - Colômbia e Paraguai - onde já existem indícios de que notas de real são produzidas ilegalmente.
- Estamos estudando como aprofundar os trabalhos com o BC - afirmou o chefe da divisão de Repreensão a Crimes Fazendários da PF, delegado Marcos Aurélio de Moura.
Esse grupo de trabalho já existe hoje, mas tem atuação pouco expressiva contra o crime que agora, após dez anos de moeda forte, parece começar a preocupar. Pesquisa encomendada pelo BC e revelada ontem pelo GLOBO mostrou que 30% da população dizem que já receberam uma nota falsa. No comércio, o número é ainda mais alarmante: 74%.
O BC consegue apreender algumas notas falsificadas porque, de tempos em tempos, recolhe todas as cédulas em circulação para averiguações rotineiras. As informações são processadas por regiões, o que é importante para a Polícia Federal tentar rastrear os falsários.
PF apreendeu em 2005 R$2 milhões
As notas enganosas, explicou o chefe do Departamento do Meio Circulante do BC, João Sidney de Figueiredo Filho, depois de passarem por perícia, são destruídas nas unidades do BC em todo o país:
- Queremos dar treinamento, com intercâmbio de informações e acesso ao nosso banco de dados à Polícia Federal. Falta política integrada.
De modo geral, o BC tem a obrigação de prevenir o crime de falsificação, informando a população como identificar notas fraudulentas. Do lado do combate, entra a Polícia Federal. O delegado Moura explica que a principal arma é o trabalho de inteligência, uma vez que a tecnologia usada pelos criminosos fica cada vez mais refinada.
E o crime pode estar avançando fronteiras. O BC já teve notícias de indícios de fraudes com cédulas de real na Colômbia e no Paraguai, que surgiram por meio de outras operações, como combate ao narcotráfico. O delegado Moura explica que a Polícia Federal tem representantes credenciados nestes países e na Argentina para atuarem em qualquer crime, inclusive o de falsificação.
- As nossas apreensões têm mostrado que esse crime (de falsificação de dinheiro lá fora) ainda não é importante. Mas é bom ficar atento.
No Brasil, adiantou o delegado, foram apreendidos pela Polícia Federal o equivalente a apenas R$2 milhões falsificados no ano passado. Ao todo, existem hoje circulando no país cerca de R$71 bilhões em dinheiro verdadeiro. Ele argumenta que é muito difícil combater esse tipo de crime, porque as notas entram em circulação e mudam muito de lugar.
O BC, por sua vez, conseguiu tirar de circulação pouco mais de R$11 milhões falsos em 2005, o equivalente a 317,5 mil cédulas.
Na banca de jornais em que trabalha, na Central do Brasil, a gerente Cherubina Sciammarella socorre-se de uma caneta importada para tentar identificar falsificações. E um pequeno risco na nota faz a diferença.
- Se a cor permanecer inalterada, a nota é verdadeira. Se ficar preta, a marca fica em definitivo e a cédula falsa poderá ser mais facilmente identificada - explica ela, que comprou a caneta por R$20.
No caso das notas de até R$50, ela dá seu laudo depois de conferir a textura do papel e colocá-la contra a luz. Mas, na cédula de R$100, Cherubina prefere o teste da caneta para ter certeza. Sem o hábito de examinar as notas que recebe, o auxiliar de serviços gerais Artur Martins da Silveira acabou levando uma nota falsa de R$10 para casa:
- A cédula foi recusada no supermercado e a levei a um banco para encaminhá-la ao BC. Três dias depois, a perícia confirmou a falsificação e fiquei no prejuízo.
No caso das notas de R$100, ele facilmente levaria gato por lebre:
- Essa então é ainda mais difícil saber se é falsa ou não, até porque só lembro-me de ter visto umas quatro na vida - disse ele, que ganha R$680 por mês.
COLABOROU: Vagner Ricardo
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