Título: SERRA FALA COMO CANDIDATO EM ATO COM ALCKMIN
Autor: Flávio Freire
Fonte: O Globo, 17/01/2006, O País, p. 10

Prefeito parte para contra-ataque e propõe mudanças na política econômica: `Isso é possível e isso será feito¿

SÃO PAULO. Até então silencioso em relação à estratégia do governador Geraldo Alckmin de impor seu nome como candidato do PSDB à Presidência, o prefeito José Serra partiu ontem para o contra-ataque. Com discurso de candidato, Serra não só propôs uma série de mudanças na política econômica como garantiu que as alterações serão implementadas no futuro.

¿ O Brasil pode funcionar. A nossa economia pode funcionar, e com taxa de juros bem menor, taxa de câmbio bem maior e estabilidade de preços. Vocês (empresários) estejam certos de que isso é possível e isso será feito em nosso país ¿ disse o prefeito, na presença do governador Alckmin, durante a abertura da feira Couromodas.

Serra: ¿Nunca deixei de falar sobre política nacional¿

Ao fim do evento, perguntado sobre quem faria as mudanças, Serra foi lacônico.

¿ A população brasileira, através do processo eleitoral deste ano ¿ disse, e desconversou sobre a sua possível candidatura presidencial:

¿ Nunca deixei de falar sobre política nacional. Sou o prefeito de uma cidade intimamente relacionada ao que acontece no Brasil, pelo tamanho, pela importância, pela industrialização, pelo desenvolvimento. Questões da política de desenvolvimento do país estarão sempre presentes em São Paulo.

Ainda enquanto falava a empresários que participavam da abertura da feira, Serra abandonou o tom municipalista e propôs a criação da lei de responsabilidade cambial, a qual incluiria a implantação de um seguro no câmbio para momentos de turbulência na economia:

¿ Temos que ter uma política que gere renda e empregos e isso só poderá ser feito com uma política econômica com credibilidade, com direção e com rumo. Isso é o que o Brasil precisa para o futuro.

No palco, separados apenas por duas cadeiras, Serra e Alckmin mal se falaram. O governador, que tem reforçado a idéia de que Serra prometeu ficar no cargo durante os quatro anos de governo, minimizou a ofensiva:

¿ Eu acho natural Serra abordar questões de natureza nacional. Ele é uma das grandes lideranças do país e tem profundo conhecimento. Não vejo problema, pelo contrário, só colabora para enriquecer o debate.

Alckmin, no entanto, alfinetou o discurso anti-Lula.

¿ Quem fizer uma campanha contra o Lula, contra o PT, corre o risco de falar sozinho. A população quer mais é saber como resolver os problemas.

Em entrevista na rádio, Alckmin critica o PT

Mas, horas antes, em entrevista à Rádio CBN, Alckmin havia disparado ataques ao PT:

¿ Um partido passa 25 anos dizendo que está tudo errado, que é preciso fazer tudo diferente. Que a política econômica está errada, que os pressupostos macroeconômicos estão errados. Aí assume o governo e não tem projeto, dando seqüência ao que era feito antes, em doses muito maiores. Como não há confiança, a taxa de juros tem que ser na estratosfera, o superávit primário tem que ser lá em cima, as reformas não andam.

Alckmin ainda elogiou a política adotada pelo ex-presidente Fernando Henrique Cardoso e evocou o chamado custo PT para justificar problemas em diversas áreas do país:

¿ O Brasil está perdendo tempo. É o lanterninha do crescimento. O ano que passou o país só ganhou do Haiti na América Latina e no Caribe. É um crescimento baixo por não ter feito as reformas, por não ter ousadia e por pagar o custo PT, que é alto para a sociedade.