Título: APESAR DE ACORDO, ÁLCOOL FICA, EM MÉDIA, 4,48% MAIS CARO NOS POSTOS
Autor: Mariza Louven e Geralda Doca
Fonte: O Globo, 17/01/2006, Economia, p. 18

Governo manda ANP investigar por que redução não chegou ao consumidor

RIO e BRASÍLIA. O acordo fechado entre governo e usineiros, semana passada, para a redução de R$0,33 no preço do litro do álcool aos distribuidores, ainda não fez efeito na maior parte do país. O preço médio do combustível, nas distribuidoras, chegou a R$1,52 na segunda semana de janeiro (entre os dias 8 e 14), com alta de 3,19% sobre a semana anterior (dias 1 a 7). Os postos repassaram os reajustes, cobrando em média R$1,724 o litro, 4,48% acima da primeira semana de janeiro, segundo levantamento da Agência Nacional do Petróleo (ANP).

O ministro de Minas e Energia, Silas Rondeau, disse ontem que acionou a ANP para investigar por que a fixação do litro de álcool anidro a R$1,05 não chegou ao bolso do consumidor. Segundo o Ministério de Minas e Energia, a ANP fará um diagnóstico. Se forem detectados movimentos especulativos, a agência tomará medidas legais, de multas até o fechamento de postos.

O vice-presidente da Federação Nacional do Comércio de Combustíveis e Lubrificantes (Fecombustíveis), Paulo Miranda Soares, afirma que a reunião com os usineiros aconteceu no último dia 11 e, em alguns postos, a coleta da ANP foi feita nos dias 9 e 10:

¿ Além disso, muitas distribuidoras ainda devem estar vendendo o estoque antigo, adquirido mais caro.

Os preços médios do álcool ao consumidor só caíram, de uma semana para a outra, em três estados: Acre (0,15%), Amapá (0,19%) e Mato Grosso do Sul (0,16%). Outros tiveram reajustes elevados: Paraíba (9,14%), Santa Catarina (9,10%), Ceará (9,70%) e Rio Grande do Norte (9,04%). No Rio de Janeiro, o combustível custou em média R$1,847 na segunda semana do mês, uma alta de 2,95%.

Álcool só continua valendo a pena em oito estados

Para Soares, com os novos estoques o preço do álcool deve desacelerar. Mas o setor só espera queda a partir de abril, quando acaba a entressafra da cana-de-açúcar.

¿ Infelizmente estamos nas mãos dos usineiros. Os preços só vão baixar mesmo depois da entressafra ¿ reclamou o presidente do Sindicato do Comércio Varejista de Combustíveis do Rio, José Luiz Mota Afonso.

A escalada dos preços do álcool ¿ que subiram 9,60% em quatro semanas ¿ puxou a gasolina, cujo valor médio no país foi de R$2,501 na segunda semana de janeiro, 0,97% acima da semana anterior. Em quatro semanas, a alta chegou a 1,67%. No Rio, o preço da gasolina ficou estável em R$2,506, mas com elevação de 0,68% em um mês.

¿ O pior é que o consumidor confiou no carro a álcool e agora está pagando caro pelo combustível ¿ disse Afonso.

Apenas em oito das 27 unidades da federação pesquisadas pela ANP o álcool vale mais a pena para o consumidor que a gasolina. Segundo Soares, o preço do álcool tem de ser equivalente a até 70% do da gasolina para compensar o fato de que é necessária uma quantidade maior do derivado da cana para rodar o mesmo percurso.

O ministro da Agricultura, Roberto Rodrigues ¿ um dos articuladores do acordo ¿ defende que distribuidores e revendedores expliquem suas ações ao público e ao governo.

¿ A nossa responsabilidade era conversar com os usineiros. Dali para frente (distribuidoras e postos) é responsabilidade de outras áreas ¿ disse Rodrigues. ¿ Não há razão nenhuma para que, uma vez que os preços caiam na usina, subam na bomba.

Rodrigues disse esperar que os benefícios da medida cheguem ao consumidor até o fim da semana. Para ele, pode estar havendo uma acomodação no mercado, devido aos estoques e aos compromissos negociados antes do acordo.

Tanto Rodrigues quanto Rondeau reafirmaram que o acordo está sendo cumprido. Dados da Escola Superior de Agricultura (Esalq), da USP, mostram queda no atacado: o anidro fechou a semana passada a R$1,04, depois de ter atingido R$1,08, e o hidratado, usado no carro bicombustível, ficou em R$1,02, contra R$1,03 na semana anterior.

Rodrigues disse que o governo vai convocar as distribuidoras e os postos de gasolina para uma reunião esta semana para discutir as margens de lucro na comercialização do álcool combustível.