Título: Um projeto comum para a A.L.
Autor: Renato Galeno
Fonte: O Globo, 17/01/2006, O Mundo, p. 23
Alejandro Foxley foi um dos autores do programa de governo de Michelle Bachelet e um dos democratas-cristãos mais próximos da presidente eleita do Chile. Ex-ministro da Fazenda, o senador é cotado para a pasta das Relações Exteriores.
Quais as prioridades do governo de Bachelet em suas relações com a América do Sul e, mais especificamente, com o Brasil?
ALEJANDRO FOXLEY: A primeiríssima prioridade da política internacional é clara: construir relações, as mais estreitas possíveis, com os países da América Latina, particularmente com a América do Sul, e prestar uma atenção muito especial aos países vizinhos. Resolver os problemas mais pendentes, mas também olhar mais adiante. Ano passado estive no Fórum Econômico Mundial em Davos e fiquei triste ao ver que, à exceção do presidente Lula, não havia qualquer outra representação importante sul-americana. Estavam lá asiáticos, chineses, indianos, a Europa Oriental, todos tratando de competir na globalização, e a América Latina estava ausente. Temos agora que terminar com as divisões e brigas. Cada país tem direito a ter o seu projeto nacional específico, não vamos questionar ninguém, mas vamos construir um projeto comum frente ao resto do mundo.
Como conseguir consenso com a oposição no Congresso depois de uma campanha tão dura?
FOXLEY: Pediria que agora baixássemos a temperatura. Democracia é concorrência, que é sempre muito dura no final. É preciso ter calma e retomar a qualidade da política no Chile nos últimos 16 anos.
Como resolver as diferenças com países como Bolívia e Peru sobre as questões fronteiriças?
FOXLEY: Vamos dar sinais rápidos aos povos peruano e boliviano de que podem contar com um governo de diálogo, aberto, que vai buscar um entendimento profundo, não apenas a curto prazo. Que vai buscar construir no Cone Sul uma política comum para o exterior. Evo Morales teve um grande respaldo popular e, portanto, será um interlocutor mais que apropriado para começar a conversar sobre uma agenda aberta.
O senhor será chanceler?
FOXLEY: Quem disse isso? (risos) Não há nada. Mas se Michelle determinar outra coisa, veremos...