Título: RÚSSIA SE UNE À EUROPA PARA PRESSIONAR O IRÃ
Autor: Fernando Duarte
Fonte: O Globo, 17/01/2006, O Mundo, p. 25
Países do Conselho de Segurança da ONU já redigem resolução em represália a retomada de programa nuclear
LONDRES. Um relativo apoio da Rússia fortaleceu ontem a intenção dos governos de EUA, Reino Unido, França e Alemanha de submeter a retomada do programa nuclear iraniano a exame do Conselho de Segurança da ONU. Embora tenha afirmado que Teerã ainda não descartou a proposta de que a Rússia cuide do enriquecimento do urânio no país, o presidente Vladimir Putin assinalou que sua posição na questão está muito próxima daquela assumida por americanos e europeus.
Putin fez a declaração depois de receber a chanceler federal alemã, Angela Merkel, em Moscou.
Em Londres, durante uma reunião de diplomatas dos cinco membros permanentes do conselho (EUA, Reino Unido, França, Rússia e China) e ainda da Alemanha, começou a ser elaborado o texto de uma resolução contra o Irã, ao mesmo tempo em que se discutiu a convocação de uma reunião extraordinária da Agência Internacional de Energia Atômica (AIEA), nos dias 2 e 3 de fevereiro. O encontro poderia resultar num pedido de represálias diplomáticas ou mesmo sanções ao Irã. O chanceler britânico, Jack Straw, assinalou que todos os participantes da reunião defenderam a interrupção do programa nuclear iraniano.
¿ O Irã precisa dar à comunidade internacional a certeza de que seu programa nuclear tem exclusivamente fins pacíficos. A confiança tem sido minada por um histórico de ocultações e decepções ¿ disse.
Dos cinco membros permanentes do conselho (e com poder de vetar decisões) apenas Rússia e China não tomaram uma posição mais veemente sobre a questão, principalmente por motivos econômicos.
A Rússia tem investido pesadamente no programa nuclear iraniano e, embora continue defendendo uma solução negociada, parece perder a paciência com o Irã. Já a China teme comprar uma briga por ser fiel compradora do petróleo iraniano. Há poucos dias, o governo chinês disse acreditar que o envolvimento do Conselho de Segurança da ONU só complicaria a situação. O arrefecimento de Moscou poderia, porém, levar Pequim a se abster numa eventual votação da ONU sobre represálias a Teerã.
Por outro lado, o Irã obteve apoio de um de seus principais vizinhos. O príncipe Saud al-Faisal, chanceler saudita, disse que os países ocidentais têm sua parcela de culpa na crise por terem ajudado Israel a desenvolver armas atômicas.
Governo do Irã proíbe CNN de trabalhar no país
Num novo desafio aos EUA, o Irã proibiu ontem a CNN de trabalhar no país, depois de um jornalista da TV americana cometer um erro numa transmissão. Ao fazer uma tradução simultânea, o repórter citou o presidente Mahmoud Ahmadinejad dizendo: ¿O uso de armas nucleares é um direito do Irã.¿ Na verdade, ele dissera: ¿O Irã tem direito a energia nuclear.¿
www.oglobo.com.br/mundo