Título: PRÓ-MERCOSUL
Autor:
Fonte: O Globo, 18/01/2006, Opinião, p. 6
AAmérica Latina parece ter entrado novamente em ebulição, com mudanças políticas em diferentes direções. Nesse ambiente, o Mercosul tem sido ameaçado de dissensão exatamente pelos países membros de menor economia, como Uruguai e Paraguai, que deveriam ser os mais favorecidos.
O Mercosul começou muito bem, com o comércio inter-regional se multiplicando rapidamente. Mas, ao fim da década de 90, Brasil e Argentina enfrentaram graves crises, com epicentro no câmbio. No caso da economia brasileira, a busca de um novo desequilíbrio exigiu forte desvalorização da moeda, com reflexos na demanda por importações.
De deficitário, o Brasil passou a ter superávit no comércio exterior, inclusive no âmbito do Mercosul. E essa situação se mantém, mesmo depois da expressiva valorização do real em 2005.
Para superar a crise, cada país teve que se voltar para si mesmo em busca de soluções, fazendo com que a agenda comum fosse deixada um pouco de lado. À medida que surgiam, as arestas iam sendo aparadas de forma pragmática, de modo a manter o Mercosul funcionando.
O comércio inter-regional retomou a rota do crescimento, porém não foram dados passos na direção de um dos objetivos principais do bloco econômico, que é a união de forças para a conquista, em conjunto, de novos mercados. Negociações bilaterais não avançaram o suficiente e, de certa forma, o Mercosul acabou se afinando com as posições contrárias à criação da Área de Livre Comércio das Américas (Alca).
A possibilidade de um grande acordo comercial nas Américas é hoje considerada remota, mas em contrapartida os Estados Unidos mostram boa vontade com os países que desejam entendimentos diretos, nos moldes do Nafta.
Se essa tendência prevalecer, isso poderia levar ao esfacelamento do Mercosul, o que seria um grande retrocesso. Brasil e Argentina, que viabilizaram o mercado comum, têm de deixar suas arestas de lado neste momento para privilegiar o fortalecimento do Mercosul. Felizmente, essa deve ser a agenda do encontro que os presidentes Lula e Néstor Kirchner terão hoje em Brasília.