Título: CIDADE JÁ TEM SURTO DE DENGUE
Autor: Maria Elisa Alves
Fonte: O Globo, 18/01/2006, Rio, p. 11
Barra e Jacarepaguá registram 49 dos 67 casos notificados em janeiro
O mosquito da dengue volta a ameaçar o carioca. Depois da epidemia de 2002, quando foram registrados 138 mil casos somente no município do Rio, duas regiões enfrentam agora um surto da doença, confirmado ontem pela Secretaria municipal de Saúde. A Barra da Tijuca e Jacarepaguá têm juntas 49 dos 67 casos notificados desde o início do ano. Para evitar que o surto se alastre, a secretaria vai criar uma força-tarefa, com a ajuda do estado, para atuar, a partir da próxima semana, nas duas áreas mais afetadas.
Embora toda epidemia comece a partir de surtos localizados, o subsecretário municipal de Saúde, Mauro Marzochi, diz que ainda não há motivos para se temer um número alarmante de casos de dengue na cidade. Na opinião dele, a situação é controlável. Marzochi disse que desde o início de janeiro estão sendo feitas ações de bloqueio em Jacarepaguá, onde foram registrados 36 casos da doença, e na Barra, que tem até agora 13 notificações.
Durante as ações, agentes vão aos locais onde as vítimas acham que foram picadas e, além de procurar focos do Aedes aegypti, aplicam fumacê num raio de 300 metros da área suspeita.
¿ Já estamos fazendo o bloqueio. A partir da próxima semana, a força-tarefa, que terá 500 homens, vai intensificar as ações ¿ diz Marzochi.
Subsecretário vincula focos a migrantes
Embora Marzochi afirme que as ações de bloqueio em Jacarepaguá e Barra começaram em janeiro, trata-se de um surto anunciado desde dezembro do ano passado. Segundo dados obtidos no site da Secretaria municipal de Saúde, em dezembro de 2005 foram registrados 328 casos de dengue na cidade. Desses, 254 eram da Barra (56) e de Jacarepaguá (198).
¿ Esse aumento de casos em Jacarepaguá e na Barra é uma situação localizada, não atingiu o estado por enquanto. O alerta de dengue é no Rio, mas vamos ajudar o município para evitar que o problema aumente. Oferecemos mil agentes para ajudar a combater a dengue, mas o município disse só precisar de cem. O trabalho conjunto começa amanhã ¿ disse o secretário estadual de Saúde, Gílson Cantarino, que também cedeu seis caminhões-fumacê para serem usados na Barra e em Jacarepaguá.
Segundo Marzochi, o local mais afetado da região de Jacarepaguá é Curicica e, na área da Barra, Vargem Pequena, onde foram registrados 37 casos em dezembro, entre eles o do aposentado Antônio de Jesus Assis, que morreu em 23 de dezembro. O óbito foi confirmado na semana passada pela Secretaria de Saúde. De acordo com a cunhada da vítima, Selma Baptista, no local há muitos mosquitos e o fumacê nunca tinha aparecido até a morte de Antônio. O adolescente Renan da Silva Carnesino, de 15 anos, cujo óbito semana passada no Hospital Rocha Faria estava sendo investigado, provavelmente não morreu de dengue, segundo Marzochi. Um laudo do Instituto Médico-Legal mostrou que ele teve apendicite, que evoluiu para infecção generalizada.
De acordo com o subsecretário, as linhas de ônibus que vêm do Ceará, onde houve 20 mil casos de dengue em 2005, para favelas da Barra podem estar contribuindo para o aumento de casos de dengue:
¿ Tem linha de ônibus do Ceará direto para Jacarepaguá. É muita coincidência.
Segundo o infectologista Edmilson Migovski, não há relação da dengue com a migração:
¿Tem bairros com 7% de índice de infestação. A culpa é do nordestino?
Para ele, depois da realização de pelo menos quatro Dias D (de combate à dengue), agora é hora da população se conscientizar de vez:
¿ As pessoas têm que se mobilizar ainda mais.