Título: BOLÍVIA PODE PROTEGER MILITARES QUE MATARAM CHE
Autor: Janaina Figueiredo
Fonte: O Globo, 18/01/2006, O Mundo / Ciencia e Vida, p. 29
Lei que impediria afastamento de matadores do guerrilheiro seria aprovada às vésperas da posse de Evo Morales
BUENOS AIRES. O presidente da Bolívia, Eduardo Rodríguez, tem até amanhã para promulgar uma lei aprovada por ambas as câmaras do Congresso boliviano que declara beneméritos os militares que assassinaram o líder da revolução cubana Ernesto ¿Che¿ Guevara, em 1967.
O projeto deverá tornar-se lei às vésperas da posse do presidente eleito do país, Evo Morales, que sempre defendeu a figura do guerrilheiro argentino e é aliado de familiares de guerrilheiros bolivianos que também foram mortos nos confrontos. A nova lei impede que os militares em questão sejam afastados de seus postos e, em conseqüência, percam a proteção do Estado.
¿ Estamos garantindo trabalho e plano de saúde digno a homens que atuaram em defesa de nosso país ¿ disse ao GLOBO o deputado boliviano Carlos Nacif, um dos autores do projeto.
Segundo ele, caso o Movimento ao Socialismo (MAS), liderado por Morales, tente prejudicar os militares amparados pela futura lei, ¿o novo governo terá um grave problema¿.
¿ Estamos discutindo este projeto desde 2004, já era hora de que fosse aprovado e promulgado ¿ afirmou o deputado, ex-presidente da Comissão de Defesa da Câmara e um dos principais autores da iniciativa.
Boliviano quer Fidel na sua cerimônia de posse
O senador Antonio Peredo e o vereador Osvaldo Peredo são irmãos dos guerrilheiros Guido Inti e Roberto Coco Peredo, mortos em 1967. Ambos integram o MAS e são importantes colaboradores do novo presidente, circunstâncias que alimentaram uma série de rumores na Bolívia sobre qual será a atitude dos dois dirigentes quando Morales assumir o poder.
Guevara e seus companheiros de armas foram presos em 8 de outubro de 1967 por um comando de militares bolivianos liderado por agentes da CIA (agência de inteligência americana). O argentino foi assassinado no dia seguinte, na região de La Higuera, onde foi construído um santuário em sua homenagem.
¿ Seria um erro de Evo tentar derrubar nosso projeto ¿ insistiu Nacif.
O presidente eleito da Bolívia fez uma visita a Buenos Aires ontem e aproveitou para manifestar sua esperança de que o presidente de Cuba, Fidel Castro, esteja presente em sua posse, no próximo dia 22 de janeiro.
¿ Espero que Fidel venha, tenho confiança que virá. Disse a ele que se não vier não tomarei posse ¿ brincou Morales, após reunir-se com o presidente Néstor Kirchner.
O presidente eleito boliviano admitiu que os primeiros meses de gestão serão difíceis pois ¿muitos setores tentarão¿ boicotá-lo e reiterou sua disposição a dialogar com os EUA.
¿ A América Latina não pode continuar sendo o tapete dos EUA. Mas estamos dispostos ao diálogo; o que não queremos são acordos de submissão a outros países ¿ afirmou Morales.
O subsecretário de Estado americano Thomas Shannon disse que irá à Bolívia para a posse de Morales e mostrou-se disposto a conversar com o novo presidente.