Título: Lula, Kirchner e integração
Autor: Tereza Cruvinel
Fonte: O Globo, 19/01/2006, O GLOBO, p. 2

A rusga Lula-Kirchner parecia ontem definitivamente superada. As relações Brasil-Argentina, depois da deterioração, parecem voltar ao patamar antigo, o da aliança estratégica firmada entre Sarney e Alfonsín, lá se vão duas décadas. Sarney, por sinal, era um dos mais satisfeitos com este resgate ontem no Itamaraty, na mesa de Lula e Kirchner. Há problemas, e muitos, a resolver, mas agora sem implicâncias recíprocas. Por caminhos diversos, os dois países saíram da tutela do FMI.

Em sua primeira visita de Estado ao Brasil (demora que por si fala do quanto as coisas andaram ruins), Kirchner conseguiu reunir, ao falar no Senado, a totalidade dos 81 senadores e um bom grupo de deputados. Ali, externou seu apoio à Comunidade Sul-Americana de Nações, invenção de Lula da qual no início ele desdenhou. Trataram os dois de salvar o Mercosul, admitindo a necessidade de olhar mais para os dois menores países do bloco, Uruguai e Paraguai. Também ontem, o presidente uruguaio Tabaré Vasquez descartou o tratado de livre comércio separado com os Estados Unidos. Em troca, espera ajuda dos dois ricos. Algo mais que o helicóptero que o governo brasileiro está doando à sua Aeronáutica.

A semana será de muita política externa para Lula. Hoje ele e Kirchner recebem Hugo Chávez em Brasília para discutirem o mega-gasoduto que sairá da Venezuela e chegará à Argentina passando pelo Brasil. Do encontro sairá o esboço da comissão que dará forma institucional à Comunidade Sul-Americana de Nações. A seguir Lula vai à posse de Evo Morales, na Bolívia, e depois ao FSM em Caracas. Política externa pode não dar voto mas sempre marca a biografia presidencial.