Título: CPI dos Bingos quebra o sigilo de Okamotto
Autor: Alan Gripp
Fonte: O Globo, 19/01/2006, O País, p. 10

Oposição quer saber se pagamento de dívida de Lula está registrado nas contas bancárias do presidente do Sebrae

BRASÍLIA. A CPI dos Bingos aprovou ontem a quebra do sigilo bancário, fiscal e telefônico do presidente do Sebrae, Paulo Okamotto, que diz ter pago uma dívida de R$29,4 mil do presidente Luiz Inácio Lula da Silva com o PT, mesmo sem o seu conhecimento. A oposição, que é maioria na CPI e suspeita que o empréstimo tenha sido pago com recursos provenientes do caixa dois do partido que alimentou o valerioduto, quer saber se as operações estão registradas nas contas de Okamotto.

Em depoimento na CPI, em novembro, Okamotto, amigo de Lula, disse que saldou o débito sozinho e com recursos próprios. O presidente do Sebrae informou que a dívida foi lançada na contabilidade do PT como empréstimo por um erro contábil e que só não contou para Lula para não constrangê-lo. Okamotto também é investigado na CPI dos Bingos pela suspeita de arrecadar recursos para campanhas do partido entre empresas que tiveram contratos com prefeituras petistas do interior de São Paulo.

Compadre de Lula também será investigado

A CPI também vai investigar o empresário Roberto Teixeira, compadre de Lula. Ele foi convocado novamente ontem a depor ¿ o requerimento havia sido aprovado em novembro do ano passado. Sua empresa de consultoria, Cpem, é acusada de participar de um esquema de caixa dois do PT, que funcionaria desde 1993.

A denúncia contra a Cpem foi feita anteontem na CPI pelo ex-militante do PT e ex-secretário de Finanças de Campinas e São José dos Campos Paulo de Tarso Venceslau. Segundo ele, a Cpem procurava as prefeituras oferecendo uma consultoria para aumentar a arrecadação de ICMS repassado pelo estado aos municípios. Mas o lucro, segundo ele, seria repartido entre a empresa e o caixa do partido.

Convocação acirra ânimos na CPI

A convocação de Okamotto acirrou os ânimos na CPI.

¿ O único propósito da CPI é atingir a figura do presidente Lula. Criou-se uma imagem artificial de que Okamotto é um grande arrecadador informal do PT, mas tudo tem limite. A CPI não tem o direito de trazer a eleição presidencial para cá ¿ atacou o senador petista Tião Viana (AC), que até então adotava discurso amistoso.

¿ O presidente Lula não está acima da lei, e nem o senhor Okamotto. Não pode haver dúvidas sobre esse episódio. Os homens públicos do Brasil precisam se acostumar em ter seu sigilos quebrados. Afinal, são homens públicos ¿ rebateu o líder do PSDB no Senado, Arthur Virgílio.