Título: Virar o jogo
Autor: Míriam Leitao
Fonte: O Globo, 19/01/2006, Economia, p. 22

O Brasil exportou no ano passado US$9 bilhões em petróleo e derivados, o que é US$3,35 bilhões mais do que exportou dos produtos em 2004 e quase o dobro de 2003. Em 2006, a Petrobras vai aumentar sua exportação e diminuir a importação e, pela primeira vez na sua história, terá um superávit em sua balança. A projeção é que o saldo positivo chegue a US$2,9 bilhões.

A auto-suficiência, que será atingida este ano, não significa que o país não vai mais importar. O Brasil vai continuar importando e exportando petróleo e derivados. Só que várias mudanças estão ocorrendo na estrutura do comércio exterior da Petrobras.

¿ Temos investido em unidades de conversão nas refinarias para usar mais o petróleo pesado que produzimos, principalmente, em Marlin. Petróleo pesado, quando é refinado, produz muito óleo combustível, produto de que não precisamos e cujo consumo está em queda no mundo. Com as unidades de conversão, produzimos menos óleo combustível em cada barril refinado ¿ conta o diretor de Abastecimento da empresa, Paulo Roberto Costa.

A balança comercial brasileira, como um todo, terá um saldo menor este ano, mas as exportações vão aumentar. O saldo cairá porque o país importará mais. No ano passado, os dez setores que mais contribuíram para o aumento da exportação venderam, em conjunto, US$20 bilhões a mais do que no ano anterior, segundo um estudo feito pela MB Associados.

O setor de petróleo e derivados foi o que mais aumentou sua exportação, mas não foi o que mais exportou. O item mais importante na lista é o de material de transporte ¿ no qual entram os carros ¿ que vendeu para o exterior US$19 bilhões, US$3 bi a mais que no ano anterior, como mostra a tabela abaixo. Minérios metalúrgicos exportou US$8 bilhões, puxado principalmente pelo aumento dos preços do minério de ferro. A economista Maria Cristina Mendonça de Barros diz que a MB está prevendo US$40 bilhões de saldo este ano, mas com aumento das exportações, que vão de US$118 bilhões para US$126 bilhões, dentro de um cenário de crescimento mundial, que é o mais provável.

¿ Estamos com boas perspectivas em todos os grandes setores. Até no caso das carnes, apesar da aftosa, as vendas devem aumentar. Quando caem as compras internacionais de carne, o Brasil é o último a sentir. Em se tratando de frango, o país é o menos ameaçado pela gripe aviária. Em açúcar e álcool, o Brasil está bombando; em dois anos, dobramos a exportação. Não é que câmbio não importe, alguns setores como calçados e têxteis estão de quatro, mas, nos grandes setores, o país continua competitivo ¿ comenta.

A Petrobras tem projeções que confirmam o otimismo em relação ao setor de petróleo. Se der tudo certo, como está previsto, a empresa vai aumentar em 30 mil barris/dia sua exportação durante o ano. Em 2005, vendeu 259 mil barris/dia e, em 2006, planeja vender em média 289 mil barris/dia. Em dois anos, terá mudado totalmente seu quadro externo.

¿ Em 2004, fechamos nosso balanço com um déficit de US$3,2 bilhões entre o que exportamos e o que importamos. No ano passado, esse déficit caiu para 787 milhões e, em 2006, teremos o primeiro superávit na nossa História, que será de US$2,9 bilhões ¿ diz Paulo Roberto Costa

O preço do petróleo no mercado internacional continuará pressionado, nas previsões da Petrobras. Este ano, a empresa acha que deve ficar, em média, em US$55 o barril, o que é US$5 a mais do que a média de 2005. Os motivos da alta dos preços esta semana foram as confusões políticas no Irã e na Nigéria. O primeiro produz 3 milhões de barris/dia e o segundo, de 2,5 a 3 milhões de barris. O Irã está em linha de confronto com os Estados Unidos na área nuclear e a Nigéria tem sido sacudida por intensos problemas internos, com sabotagem em área produtora e seqüestro de funcionários das companhias. A Shell, por exemplo, está parando a produção na Nigéria de 100 mil barris/dia.

Além de os produtores continuarem em turbulência, o consumo vai aumentar por causa da explosiva demanda chinesa. A projeção da Petrobras é que o consumo vai crescer 1,5 milhão de barris/dia este ano, saindo de 83,5 milhões de barris/dia para 85 milhões. Com os dois fatos somados, tudo o que se pode concluir é que o preço continuará alto durante 2006. Por outro lado, será o ano em que a Petrobras vai virar o jogo no seu comércio exterior.