Título: MERCOSUL: BENEFÍCIO PARA OS MENORES
Autor: Cristiane Jungblut
Fonte: O Globo, 19/01/2006, Economia, p. 23

Lula e Kirchner discutem medidas para acalmar sócios Uruguai e Paraguai

BRASÍLIA. O presidente Luiz Inácio Lula da Silva e seu colega da Argentina, Néstor Kirchner, decidiram ontem discutir medidas que beneficiem os sócios menores do Mercosul ¿ Uruguai e Paraguai ¿ para fortalecer o bloco e acabar com o alto nível de insatisfação dos dois. Preocupados com a possibilidade de o Uruguai fechar um acordo comercial sozinho com os Estados Unidos, Lula e Kirchner ficaram aliviados ao receberem, durante o encontro bilateral, a sinalização do governo uruguaio de que não assinará qualquer tratado com os americanos que desrespeite as regras do Mercosul.

¿ Precisamos ser mais generosos com os nossos irmãos menores. Temos consciência de que precisamos trabalhar para que nossas relações econômicas sejam sempre mutuamente benéficas. Não é do interesse do Brasil nem da Argentina que essas assimetrias se tornem estruturais ¿ disse Lula.

Segundo ele, a idéia é fazer novas parcerias em áreas como infra-estrutura e indústria naval. Lula também prometeu apoiar medidas que ajudem a recuperação da indústria argentina. O acordo automobilístico entre os dois países é um dos pontos mais complexos nessas discussões.

Já Kirchner foi mais direto, ao afirmar que Paraguai e Uruguai têm aumentado suas críticas ao Mercosul, devido à ¿desatenção¿ dos parceiros de economias maiores aos sócios menores:

¿ No Paraguai e no Uruguai fortalecem-se as posturas críticas ao Mercosul em função do que se considera desatenção com respeito a essas assimetrias. É necessário que façamos um esforço conjunto para atender a essas reclamações, mantendo uma atitude solidária e contemplando situações particulares.

Mais tarde, em sessão solene do Congresso, Kirchner disse que não pode haver novas derrotas no Mercosul. Ele destacou que a América do Sul precisa adotar uma posição mais firme no cenário mundial.

¿ Nós, a América do Sul, não queremos mais ser o quintal do mundo ¿ discursou.

Kirchner deixou bem claro que a Argentina quer adotar salvaguardas para alguns produtos e firmar um novo acordo automobilístico. O tema está sendo negociado com o Brasil e as conversas serão concluídas até o fim deste mês.

¿ Devemos nos esforçar para contar com instrumentos que garantam o desenvolvimento de pequenas e médias empresas dos nossos países ¿ afirmou o presidente argentino.

Troca de camisas de futebol entre os dois presidentes

A troca de amabilidades entre os dois presidentes chamou a atenção. Lula e Kirchner decidiram manter reuniões semestrais, para avaliações conjunturais, e teceram elogios um ao outro.

¿ Os brasileiros podem se sentir orgulhosos do presidente que têm ¿ disse Kirchner, chamando Lula de irmão, amigo e companheiro.

Lula enfatizou a liderança de Kirchner, que, segundo ele, conseguiu vencer o ceticismo na Argentina. O presidente brasileiro deu de presente a Kirchner, durante um almoço oferecido ao visitante, no Itamaraty, duas camisas oficiais de futebol, 11 camisas oficiais do Corinthians ¿ uma com o número 10, do argentino Carlitos Tevez ¿ e uma do Palmeiras, do também argentino Gioino. Em retribuição, ganhou uma camisa do Racing, time de Kirchner.