Título: DESAFIO NOS JUROS
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Fonte: O Globo, 20/01/2006, Opinião, p. 6

OBanco Central manteve o ritmo de queda das taxas de juros básicas, na última reunião do Comitê de Política Monetária (Copom), e já se espera novo corte para março, caso não surjam obstáculos pelo caminho. Muitos analistas acham que existe espaço para uma redução mais expressiva nos juros, em face dos números que têm mostrado um desempenho acanhado da economia brasileira. No entanto, nem sempre é possível empreender o mesmo ritmo na hora de se inverter a trajetória das taxas de juros.

A procura por bens e serviços costuma responder mais rapidamente à alta ou à baixa de juros, enquanto a oferta depende de tempo. Há produtos que são consumidos em segundos, mas levam meses até chegar às mãos do consumidor.

Então é compreensível que as autoridades monetárias adotem uma postura de cautela, embora a crítica que se faz ao Banco Central se refira ao patamar elevado em que as taxas de juros foram mantidas.

De fato, começa a amadurecer entre os diversos atores do cenário econômico o sentimento de que o Brasil já não oferece um grau de risco que justifique a manutenção de juros tão altos para se atingir os objetivos propostos.

Esse, sem dúvida, é o primeiro passo para que a economia brasileira encontre o caminho da normalidade também em relação aos juros, tal qual ocorreu na luta contra a superinflação ou mais recentemente no ajuste das contas externas.

O ano de 2006 será decisivo para se vencer tamanho desafio, pois a expectativa predominante nos mercados é que as taxas de juros cairão nominalmente para seus níveis mais baixos desde o lançamento do real, e isso em ambiente político agitado pela aproximação das eleições, sem que se precise recorrer a malabarismos.

A redução paulatina das taxas de juros parece ser então o mais recomendável exatamente para que não se corra o risco de perder uma oportunidade excelente para correção de rumos. Também não se deve esquecer a necessidade de haver alguma contenção nos gastos públicos correntes, para ajudar na queda das taxas.

Juros básicos de 17,25% ao ano sem dúvida são muito altos e se constituem em entrave ao crescimento econômico. Mas agora já nos distanciamos dos 19,75% de meados de 2005.