Título: ACORDO DO MÍNIMO NÃO SAI E LULA VAI INTERVIR
Autor: Luiza Damé
Fonte: O Globo, 20/01/2006, O País, p. 8

Impasse é por causa do índice de correção do IR. Nova reunião é marcada para terça-feira com presença do presidente

BRASÍLIA. Depois de mais de sete horas de reuniões no Ministério do Trabalho e no Palácio do Planalto governo e os representantes das centrais sindicais não conseguiram fechar acordo sobre a data de reajuste do salário-mínimo e o índice de correção da tabela do Imposto de Renda. Uma nova reunião ficou marcada para a próxima terça-feira, às 10h, no Palácio do Planalto, desta vez sob o comando do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, mas já está praticamente certo que o mínimo passará de R$300 para R$350 a partir de 1º de abril e que a tabela do IR seja corrigida em 8%.

Essa proposta alternativa foi possível devido ao recuo das centrais sindicais e do governo: os sindicalistas queriam R$350 já a partir de março e correção da tabela do IR em 10%; o governo queria manter o reajuste em maio e 7% para a correção da tabela do IR.

Ministro: ¿Chegaremos a um acordo¿

Apesar de não ter fechado acordo ontem, o ministro do Trabalho, Luiz Marinho, acredita que na próxima semana as duas partes chegarão a um entendimento.

¿ Estamos convictos de que chegaremos a um acordo ¿ afirmou o ministro, informando que o governo precisa se preocupar em enquadrar no Orçamento o aumento do salário-mínimo e a correção do IR.

Segundo ele, a cautela na definição dos valores se deve ao compromisso do governo em manter o equilíbrio do Orçamento.

¿ Tenho convicção de que chegaremos a um acordo que a sociedade julgue positivo para as centrais, para os trabalhadores e para o governo, mas que seja positivo para a economia, que seja sustentável e garanta emprego e distribuição de renda ¿ disse o ministro.

Várias reuniões ao longo do dia

Nas várias reuniões ao longo do dia, inclusive no encontro do Planalto entre Lula e ministros, foi posto na mesa que a antecipação do reajuste do mínimo para abril custará R$1,068 bilhão a mais aos cofres públicos e que a correção do Imposto de Renda em 8% terá um custo adicional de cerca de R$1,1 bilhão. É preciso definir de onde serão tirados esses recursos no orçamento que ainda depende de aprovação do Congresso.

Marinho disse que o fato de Lula presidir a reunião de terça-feira demonstra que o acordo está próximo de ser fechado.

¿ Estamos trabalhando para consolidar o acordo ¿ afirmou, otimista.

A reunião com as centrais começou por volta do meio-dia e foi suspensa duas vezes para que o governo analisasse a posição das centrais. No fim da tarde, Lula se reuniu com os ministros Luiz Marinho, Luiz Dulci, da Secretaria Geral da Presidência, e o interino da Previdência Carlos Gabas, que estavam negociando com as centrais. Mas, no meio da reunião, convocou também os ministros Antonio Palocci, da Fazenda, e Dilma Rousseff, da Casa Civil. Foi aí, diante dos números, que Lula decidiu adiar a decisão, para o governo analisar com mais tempo o impacto nas contas públicas.

Paulinho: ¿Agora está nas mãos do governo¿

O presidente da Força Sindical, Paulo Pereira da Silva, o Paulinho, disse que nesta reunião as centrais chegaram quase no limite das negociações e que não aceitam ceder mais. Na semana passada, a proposta das centrais era de que o reajuste do mínimo para R$350 passasse a valer em 1ºde março e que a tabela do IR fosse corrigida em 10%.

¿ Agora está nas mãos do governo. O governo só não faz acordo se não quiser ¿ afirmou.

O presidente da Central Única dos Trabalhadores (CUT), João Felício, e o presidente do Sindicato dos Metalúrgicos do ABC, José Lopez Feijoó, demonstraram otimismo com as negociações.

¿ Estamos evoluindo. Este é um processo de negociações inédito. Eu acredito que estamos muito próximos de fechar o acordo ¿ disse Feijoó.