Título: RIO JÁ TEM 110 CASOS DE DENGUE SÓ ESTE MÊS
Autor: Claudio Motta e Maria Elisa Alves
Fonte: O Globo, 20/01/2006, Rio, p. 17

Ministro da Saúde descarta possibilidade de epidemia na cidade, que teve 58 infectados em janeiro de 2005

O número de casos de dengue no município do Rio do início do ano até agora já é quase o dobro do de janeiro de 2005: a Secretaria municipal de Saúde divulgou ontem que há 110 vítimas da doença na cidade, 79 delas nas regiões da Barra e Jacarepaguá, que enfrentam um surto. No primeiro mês do ano passado, o mosquito Aedes aegypti contaminou 58 pessoas. O total de doentes também aumentou nos últimos dois anos: foram 871 casos em 2005, 59% a mais do que os 547 de 2004.

Apesar dos índices, o ministro da Saúde, Saraiva Felipe, descartou ontem a possibilidade de ocorrer uma epidemia no Rio. Ignorando os números do município, ele citou as notificações do estado, que registrou até agora 109 casos, contra os 354 de janeiro do ano passado:

¿ Temos 109 casos e devemos fechar janeiro com 280, bem menos do que em 2005.

O ministro, que esteve no Rio para anunciar a liberação de R$45,5 milhões para a construção da nova emergência do Hospital Miguel Couto e para o Hospital da Mulher Neuza Brizola, entre outras iniciativas, disse que o Rio não corre risco de ter um número alarmante de casos.

¿ Não há uma situação de epidemia de dengue ¿ afirmou, antes de criticar o índice de infestação na cidade. ¿ Infestação de 7% é muito, é alto.

Ação tenta suspender contrato de mata-mosquitos

Até agora, Curicica, com 22 casos, é a área com maior número de registros na cidade.

Durante o surto, a cidade pode perder cem mata-mosquitos. Mesmo que estejam subordinados à Secretaria estadual de Saúde, eles foram reincorporados, em 2003, à Fundação Nacional de Saúde (Funasa). Agora, o contrato pode ser suspenso, se o Supremo Tribunal Federal aceitar a ação direta de inconstitucionalidade proposta pela Procuradoria Geral da República, que alega que o combate a endemias deve ser feito por funcionários concursados.

Esses agentes de saúde estiveram ontem em Jacarepaguá, onde começaram o trabalho integrado do estado com a prefeitura para conter o surto da doença. Seis carros fumacê foram usados. Segundo Marcos Diniz, um dos diretores do Sindicato dos Trabalhadores em Saúde Preventiva e Combate às Endemias do Estado do Rio, a experiência da categoria poderia ter evitado o surto:

¿ Daqui a 20 dias, quando esta ação deverá ser julgada (no STF), poderemos, mais uma vez, estar desempregados. A cidade do Rio ficará sem os mata-mosquitos durante um surto.

Os mata-mosquitos foram demitidos em 1999 pelo então ministro da Saúde, José Serra. Em 2003, foram reincorporados à Funasa e assinaram um contrato com validade de dois anos e que em setembro foi prorrogado para mais dois. Em todo o estado, há 5.241 mata-mosquitos que atuam em convênio com diversos municípios.

¿ O Rio foi a única cidade do estado que não fez um convênio ¿ disse o mata-mosquito Geovane Chavez.

Segundo a Secretaria estadual de Saúde, os agentes da Funasa foram aproveitados por causa de seu conhecimento acumulado. Na segunda-feira, 50 agentes de saúde da prefeitura se juntarão a eles. No mesmo dia, começará o treinamento de 500 bombeiros, que devem começar a trabalhar na quinta-feira. De acordo com o secretário estadual de Saúde, Gilson Cantarino, até cinco mil bombeiros poderão ser usados.

Enquanto faz campanha para a população eliminar os focos de dengue, a prefeitura nem sempre dá o exemplo. Agentes descobriram larvas de mosquito dentro da Escola Municipal Alina de Britto, na Praça do Bandolim, em Curicica. Ontem, o vereador Carlos Eduardo afirmou que no terreno onde está sendo construída a maternidade municipal Osvaldo Nazareth, ao lado do Hospital Souza Aguiar, havia água parada. Segundo a Secretaria de Saúde, tratava-se do lençol freático da região, cuja água seria retirada através de bombas.