Título: MSF ALERTA PARA AUMENTO DA VIOLÊNCIA
Autor: Helena Celestino
Fonte: O Globo, 20/01/2006, O Mundo, p. 34

Cerca de 50% das vítimas de armas de fogo são mulheres, crianças e idosos

A organização Médicos sem Fronteiras (MSF) lançou um apelo para que os grupos armados no Haiti respeitem os civis e os trabalhadores de grupos humanitários em meio ao crescimento da violência no país. A ONG alertou principalmente para a situação em Cité Soleil, favela de Porto Príncipe que é hoje uma das áreas mais violentas do país.

A organização tem observado um grande aumento no número de ferimentos por armas de fogo nos três últimos meses em duas unidades hospitalares nas quais atua na região: o Centro de Traumatologia de St. Joseph, no bairro de Turgeau, e o Hospital Choscal, em Cité Soleil. Somadas, elas atenderam 220 feridos por tiros em dezembro, contra 147 no mês anterior.

¿ Há combates todos os dias, especialmente à noite. Desde 1º de janeiro recebemos 67 pessoas feridas no hospital de Cité Soleil. Em dezembro foram 80 ¿ conta por telefone o italiano Sergio Cecchini, coordenador de comunicação do MSF no Haiti. ¿ Cité Soleil é uma zona crítica.

Gangues teriam fugido para Cité Soleil

Cerca de 50% dos feridos são mulheres, crianças e idosos atingidos pelo fogo cruzado de grupos armados na capital. Outros são vítimas indiretas: doentes que não conseguem chegar ao hospital devido a tiroteios no caminho. Nem mesmo os centros de saúde estão a salvo. Na noite de terça-feira, quatro disparos de artilharia pesada atingiram a unidade pediátrica do hospital de Cité Soleil.

¿ Tivemos que evacuar o terceiro andar. É inadmissível que trabalhadores humanitários, profissionais de saúde e pacientes se tornem alvos de grupos armados ¿ queixa-se Cecchini.

Para o capitão-de-corveta brasileiro Rogério Teixeira, da Missão das Nações Unidas para a Estabilização do Haiti (Minustah), uma explicação para o aumento da violência em Cité Soleil ¿ região sob comando das tropas jordanianas ¿ seriam as operações militares maiores em outras áreas da capital.

¿ Acredito que isso tenha feito com que muitas gangues fugissem para Cité Soleil, transformando a região numa espécie de refúgio. O que podemos dizer pelos boletins da Minustah é que esse é um problema localizado. O futuro vai depender do desdobramento das gangues na área.

O capitão não acredita que o aumento da violência esteja relacionado às eleições presidenciais de 7 de fevereiro, e que por quatro vezes foram adiadas. Segundo a ONU, está tudo pronto para o pleito, o primeiro desde a queda de Jean-Bertrand Aristide, em fevereiro de 2004.