Título: GENERAL ELITO ASSUME TROPAS NA SEGUNDA-FEIRA
Autor: Helena Celestino
Fonte: O Globo, 20/01/2006, O Mundo, p. 34

Novo comandante da missão de paz das Nações Unidas se reúne com Kofi Annan e embarca hoje para Haiti

NOVA YORK. Depois de três dias à espera de que o Conselho de Segurança ratificasse a sua indicação como comandante das tropas da ONU, o general José Elito Carvalho de Siqueira parte hoje de Nova York, nos EUA, diretamente para o Haiti, onde assume segunda-feira a chefia militar da missão internacional de estabilização do país. Em uma semana de contatos com os funcionários das Nações Unidas, ele teve inúmeros briefings sobre a complicada situação que o aguarda no Haiti ¿ inclusive com o secretário-geral Kofi Annan ¿ mas contou que estava acompanhando há um ano e meio a ação da missão da ONU no país.

¿ Fomos colegas de turma do general Urano e do general Heleno, conhecemo-nos há 40 anos. O que eles fizeram no Haiti vai ajudar muito. Temos certeza de que a situação agora está melhor do que já esteve ¿ diz Elito, referindo-se ao general que se suicidou há cerca de duas semanas (e a quem substituirá) e ao primeiro comandante brasileiro das tropas.

Onda de seqüestros entre os desafios

Usando sempre o plural majestático, o general Elito disse que está otimista, apesar de todos os desafios que tem à sua espera. Nunca esteve no Haiti antes, mas já desempenhou missões no exterior ¿ foi adido militar na África do Sul no tempo do presidente Nelson Mandela e serviu também em Londres. Não teve tempo para ler o relatório da organização Médicos sem Fronteiras segundo a qual a morte de civis no Haiti cresceu exponencialmente em dezembro, mas reconhece que ações militares às vezes trazem danos colaterais à população.

¿ Essas situações têm de ser evitadas ao máximo. Têm de ser planejadas ao máximo, cabe ter o bom senso em todos os níveis. Se não for possível, que não se faça a operação.

Às vésperas da eleição, marcada para 7 de fevereiro, o Haiti vem enfrentando uma onda de seqüestros e existe atualmente uma campanha contra a missão da ONU, acusada de não conseguir controlar a violência no país. O general Elito diz que o problema está concentrado em Cité Soleil, a favela onde moram 350 mil pessoas.

¿ Essa missão é um desafio permanente. A população vai nos apoiar porque estamos lá para ajudar. Os resultados positivos são maiores do que os negativos. O que estamos fazendo lá certamente nos dignificará ¿ diz ele.

Viagem ao Brasil para conhecer o neto

O general, um dos dois indicados pelo governo brasileiro para assumir o comando das tropas, não esperava partir diretamente de Nova York para Porto Príncipe. Como ainda não havia sido escolhido, não teve um encontro com o comandante do Exército brasileiro antes da viagem, mas espera fazer isso quando voltar ao Brasil.

¿ Vamos ter que voltar, porque em fevereiro nasce um neto ¿ diz, contando que a família está preocupada com a sua nova missão, mas também envaidecida.