Título: CASO JEAN ESTÁ NO MINISTÉRIO PÚBLICO
Autor: Fernando Duarte
Fonte: O Globo, 20/01/2006, O Mundo, p. 34

Parentes de brasileiro morto em Londres reclamam acesso ao inquérito

LONDRES. O Crown Prosecution Service (CPS), equivalente britânico ao ministério público, recebeu da Comissão Independente de Reclamações sobre a Polícia (IPCC) o relatório final sobre a morte do brasileiro Jean Charles de Menezes. Num prazo ainda indeterminado, o órgão decidirá pela necessidade ou não de um processo contra a Scotland Yard devido à ação policial de 22 julho na estação de Stockwell, em que o eletricista mineiro foi morto com sete tiros ao ser confundido com um suspeito de terrorismo.

A existência de um processo criminal é determinante na luta da família de Jean Charles por uma indenização, cujo valor (alguns analistas chegaram a prever algo em torno de US$1 milhão) seria reduzido caso a CPS decidisse tratar-se apenas de uma questão disciplinar. Segundo informações da mídia britânica, a IPCC tende a culpar muito mais falhas de comunicação e comando do que partes específicas da corporação.

Familiares exigem punição para quem atirou

Além da CPS, receberam cópias do relatório a própria Scotland Yard, a Corregedoria-Geral da Polícia de Londres e o Ministério do Interior. A família de Jean Charles também terá acesso aos dados, mas em data anda indeterminada, que dependerá de deliberações dos juristas que analisam o caso.

Ontem, parentes de Jean Charles que vivem em Londres voltaram a pedir a abertura de um processo criminal, alegando que apenas num tribunal a verdade será descoberta. Embora nos últimos meses eles tenham concentrado suas baterias no comissário da Scotland Yard, Ian Blair ¿ cujas declarações após a morte do brasileiro apresentaram diversas contradições em relação a pontos da investigação oficial ¿ exigem também punição para os agentes que atiraram no brasileiro. Tal procedimento poderá ser recebido com um protesto de todos os policiais britânicos que portam armas, condição que é voluntária segundo a legislação.

Do que foi divulgado até agora sobre o comportamento dos oficiais da Scotland Yard, sabe-se que a comandante Cressida Dick, a cargo da equipe de oficiais em ação em Stockwell, disse à IPCC que não teria autorizado os disparos contra o brasileiro. Ela teria dormido muito pouco na noite anterior por conta da escassez de oficiais da Scotland Yard treinados para lidar com o terrorismo suicida.

Ian Blair é alvo de um inquérito paralelo

Outro comandante ouvido pela IPCC foi John McDowell, chefe da equipe de vigilância que erroneamente identificou Jean Charles como o etíope Omar Hussain, um dos suspeitos dos atentados frustrados ao sistema de transporte da capital britânica em 21 de julho e que supostamente moraria no mesmo bloco de apartamentos do brasileiro em Tulse Hill, no sul de Londres. Ian Blair, que não esteve entre as mais de 600 pessoas que depuseram na investigação, é alvo de um inquérito paralelo.