Título: PARA MATA-MOSQUITOS, LULA DIZ QUE NÃO FARÁ CONCURSO
Autor: Chico Otavio e Maiá Menezes
Fonte: O Globo, 21/01/2006, O País, p. 3

Presidente alega que medida favorece quem é `mais letrado¿, mas depois afirma que prova valoriza a máquina pública

O presidente Luiz Inácio Lula da Silva decidiu agradar aos mata-mosquitos, a claque mais animada no evento de ontem em Queimados, mas acabou defendendo a não-realização de concurso público para a categoria, sob o pretexto de que a prova só beneficia as pessoas que tiveram chance de estudar. Horas depois, em novo discurso em Xerém, ele voltou atrás e destacou o concurso público como um dos instrumentos de seu governo para a valorização da máquina pública.

Em Queimados, Lula lembrou que, na eleição de 2002, o grupo fazia protestos contra seu principal adversário, o hoje prefeito de São Paulo, José Serra (PSDB). O presidente disse que tenta evitar que a decisão do Ministério Público Federal, que obrigou a realização do concurso, seja cumprida.

¿ Sei o trabalho de apoio que vocês tiveram a mim na eleição de 2002. Sei que na época meu adversário não podia andar na rua que vocês andavam atrás dele.

Lula disse que não vai aceitar dispensa dos mata-mosquitos

O presidente disse que, depois da posse, pediu ao ministro da Saúde que contratasse os mata-mosquitos. Porém, o Ministério Público pede agora que eles sejam dispensados.

¿ No momento em que o Brasil ainda precisamos criar milhões de empregos para conquistar a cidadania do povo, não podemos aceitar isso sem discussão.

Ao anunciar que pediu aos deputados para conversar com os procuradores da República e garantir a continuidade do trabalho, ele disse que a contrapartida será fazer concurso, medida da qual discorda:

¿ Fazer concurso significa que um mais letrado, que não é mata-mosquito, vai passar no lugar de alguém já mata-mosquito. Apesar de o concurso ser transparente, democrático e justo, sabemos que muitos não tiveram chance de estudar como outros.

O ministro da Saúde, Saraiva Felipe, em seu discurso, também criticou a decisão do Ministério Público Federal e afirmou que não dispensará os mata-mosquitos.

¿ O Ministério Público, sem compreender a importância e o alcance do trabalho de vocês, quer que os dispensemos. Isso não será feito. O presidente Lula não permitirá.

Em Xerém, elogios ao concurso do Inmetro

Já em Xerém, onde visitou o Inmetro, Lula se ocupou de destacar o concurso para preenchimento de mais de 500 vagas no instituto. Ele chegou a atacar a imprensa ao referir-se à medida.

¿ Toda vez que pedimos um concurso, somos vítimas de muitas agressões. A imprensa entende que queremos inchaço da máquina, para colocar petista no governo.

O procurador-geral da República, Antônio Fernando de Souza, entrou com uma ação direita de inconstitucionalidade no Supremo Tribunal Federal (STF) contra a lei que autorizou a prorrogação dos contratos temporários firmados pela Fundação Nacional de Saúde (Funasa) por até dois anos, que permitiu a contratação dos mata-mosquitos sem concurso.