Título: Luta política
Autor:
Fonte: O Globo, 21/01/2006, Opinião, p. 6

Aprecariedade das estradas brasileiras, com destaque negativo para as federais, transformou-se em tema inevitável da campanha eleitoral. Certamente o assunto freqüentaria os debates entre situação e oposição. Mas com a iniciativa do governo de deflagrar, com alarido, uma ampla operação tapa-buracos, logo identificada como manobra eleitoreira por oposicionistas, a questão ganhou mais peso político do que deveria.

Que as estradas precisam de manutenção é indiscutível. Os investimentos, que já escasseavam no final da gestão FH, quase desapareceram no governo Lula. Pois, ao lado da carga tributária, o corte dos investimentos públicos foi usado sem parcimônia para ajudar na obtenção dos necessários superávits primários nas contas da União.

Na era FH pelo menos não havia prevenção contra concessões e privatizações. A situação mudou no governo Lula. A falta de investimentos não foi compensada pela abertura de espaço para o setor privado. Some-se a isso a grande dificuldade que o governo do PT demonstra na área administrativa. Fazer acontecer não é o forte deste governo. E assim chegou-se a uma situação de efetiva calamidade em algumas estradas-chave, como em trechos da BR-101.

Qualquer ação para melhorar as condições das estradas seria bem-vinda. Mas as circunstâncias do anúncio da operação tapa-buracos tornaram o tema incandescente.

A liberação de R$400 milhões para tapar buracos em 26 mil quilômetros de estradas foi interpretada como uma tentativa de Lula de procurar compensar, perante o eleitorado, os efeitos corrosivos da crise do valerioduto.

Outro foco de problemas é a contratação de empreiteiras sem licitação. O Tribunal de Contas da União discorda dessa liberalidade, justificada pelo fato de a operação ter o caráter de emergência. O resultado é que já surgem denúncias de favorecimento de empreiteiros financiadores de campanhas petistas.

E assim uma medida imprescindível ganha ares de ato eleitoral, o que pode impedir ou atrapalhar o que importa: o conserto, para valer, das estradas.