Título: UMA ALTERNATIVA PERIGOSA
Autor: Claudio Motta, Guilherme Freitas e Simone Cândida
Fonte: O Globo, 21/01/2006, Rio, p. 10

Vans e Kombis provocam no estado mais de um acidente com vítimas por dia

As vans e Kombis são uma alternativa perigosa de transporte, mas continuam a ser usadas por falta de opção. A constatação é da professora do programa de engenharia de transporte da Coppe, Marilita Braga, e está em consonância com dados divulgados pelo Corpo de Bombeiros: em 2005, vans e Kombis provocaram 512 acidentes com vítimas em todo o estado, ou seja, mais de um por dia. O número representa um aumento 10% em relação aos 464 acidentes com vítimas envolvendo vans e Kombis registrados em 2004.

¿ Os motoristas desrespeitam as regras de trânsito. A manutenção dos veículos não é adequada e eles andam superlotados. Muitas vezes os motoristas usam bancos de plástico para aumentar a capacidade dos carros. Isso sem falar nos piratas. Já vi até Kombi pintada de táxi. Falta fiscalização. Mas a população se submete ao risco porque as linhas de ônibus não dão conta da demanda ¿ critica a professora Marilita.

De acordo com os dados divulgados pelo Corpo de Bombeiros, há menos acidentes envolvendo ônibus no estado do que os com vans e Kombis. Em 2005 ocorreram 365 acidentes de ônibus, 18% a menos do que os 447 acidentes com vítimas registrados no ano anterior.

Maioria dos acidentes ocorre em vias expressas

Segundo o coronel Roni Alberto de Azevedo, relações públicas do Corpo de Bombeiros, a imprudência dos motoristas de vans e Kombis é a principal razão dos acidentes:

¿ As maiores causas de acidentes com vans são o desrespeito às leis de trânsito e o excesso de velocidade.

Segundo as estatísticas do Corpo de Bombeiros, os acidentes com vans e Kombis são mais freqüentes na Avenida Brasil, nas linhas Vermelha e Amarela e na rodovia Presidente Dutra. Para o deputado estadual Paulo Pinheiro (PPS), o governo não tem agido com rigor suficiente para coibir as irregularidades no transporte alternativo.

¿ A falta de fiscalização permite que muitos desses veículos circulem em péssimo estado de conservação, sem a manutenção adequada e com excesso de passageiros ¿ diz.

Quem paga pela imprudência dos motoristas e pela omissão do governo são as vítimas. A florista Lívia Rizzo precisou de dois anos para se recuperar de lesões nas pernas causadas por um acidente de van sofrido em 2000. Lívia ia da Ilha do Governador em direção ao Centro quando a van em que estava foi atingida por outra, em um sinal fechado. O acidente envolveu mais cinco veículos. Para cobrir os custos do tratamento, Lívia exigiu indenização.

¿ O motorista, um policial militar, queria pagar R$500. Acabamos fazendo um acordo e recebi R$3 mil. Tive medo de represálias, por isso não levei o processo adiante. Hoje evito andar de van.

Em maio de 1999, Amador Rodrigues, de 60 anos, e Joselina Domingos Rodrigues, de 58 anos, morreram quando a van em que estavam, na rodovia Rio-Santos, capotou na altura do trevo de Santa Cruz. O motorista alegou que havia óleo na pista.

Os filhos e netos do casal ainda não foram indenizados. Segundo a advogada encarregada do caso, os sócios da empresa proprietária da van, Skyland Rio Transportes Turismo e Eventos Ltda, dizem não ter dinheiro.

¿ Ações contra empresas de transporte alternativo são muito complicadas. Muitas vezes, os donos de vans não têm patrimônio para pagar indenizações em casos de acidentes graves com vítimas ¿ diz a advogada Martha Tancredo.

Os parentes do casal morto não esperaram a solução do caso. Segundo Martha Tancredo, eles se mudaram da cidade, sem avisar os advogados. A ação ainda tramita na 6ª Vara Cível.

Segundo Fernando Pedrosa, coordenador regional do Programa de Redução de Acidentes no Trânsito (Pare), vinculado ao Ministério dos Transportes, os passageiros devem observar princípios básicos, em qualquer veículo, para se proteger:

¿ O passageiro, antes de mais nada, deve usar o cinto de segurança, em qualquer um dos bancos. Além disso, é importante observar se o condutor está respeitando os sinais e a lei.

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