Título: PRESSÃO QUE VEM DOS BARRIS
Autor: Ramona Ordoñez e Geralda Doca
Fonte: O Globo, 21/01/2006, Economia, p. 17

Preço do petróleo acumula alta de 19% em um mês e se aproxima de US$70

Depois de o Brasil iniciar o ano em meio a uma crise no setor de combustíveis, com os preços do álcool pressionando a inflação, especialistas acompanham com apreensão a escalada das cotações do petróleo no mercado internacional. Em apenas um mês, os preços do barril saltaram cerca de 19%, dos quais 9% este ano (6,2% esta semana). Só ontem, a cotação do barril do tipo leve americano (WTI) subiu 2,3%, para US$68,80, na Bolsa Mercantil de Nova York. Em Londres, o barril do tipo Brent fechou a US$66,43 na Bolsa Internacional de Petróleo, uma alta de 1,8%.

As altas do petróleo já estão fazendo com que os preços da gasolina e do óleo diesel vendidos no Brasil se equiparem aos do exterior. Segundo o especialista do Centro Brasileiro de Infra-Estrutura (CBIE), Adriano Pires Rodrigues, até pouco tempo atrás a gasolina vendida pela Petrobras estava cerca de 4% mais cara do que no exterior e o diesel, 5%. Rodrigues diz que está mais preocupado com a possibilidade de o Irã suspender as exportações, o que causaria uma disparada mais forte do que quando o Iraque suspendeu as vendas:

¿ Não sei como o governo vai agir, uma vez que, tanto o presidente da Petrobras, Sérgio Gabrielli, como o ministro de Minas e Energia, Silas Rondeau, disseram que neste ano não haveria aumentos nos preços dos combustíveis, graças à auto-suficiência na produção de petróleo (prevista para acontecer neste trimestre).

Álcool fica 2,5% mais barato no atacado

A Petrobras, por sua vez, não comenta o assunto. Segundo fontes, a estatal continua mantendo a política de alinhar seus preços ao mercado internacional a longo prazo. A empresa garante que não vai repassar para os preços internos a volatilidade externa. Apesar da alta crescente da cotação do petróleo, parte do impacto é abatido pela valorização do real frente ao dólar.

Já o preço do álcool anidro no atacado voltou a cair no país e fechou a semana em R$1,02, com queda de 2,52% frente a semana anterior. Por sua vez, o álcool hidratado (usado nos carros flexfuel e que está pressionando a demanda) teve redução de apenas 0,87%, ficando em R$1,01, segundo a Escola Superior de Agricultura da USP (Esalq). Segundo a pesquisadora Mirian Bacchi, a queda se deveu mais a uma acomodação do mercado do que ao acordo feito entre governo e usineiros, que fixou o preço máximo do produto em R$1,05, na semana retrasada.

Os aumentos de ontem no mercado internacional foram puxados pelo temor de investidores quanto a instabilidade política na Nigéria e pela polêmica envolvendo o programa nuclear do Irã. Os trabalhadores do setor petrolífero ameaçam abandonar a principal região produtora nigeriana, o delta do rio Niger, se o governo não controlar a violência na área, onde grupos rebeldes reivindicam independência. A Nigéria é o terceiro maior produtor de petróleo da Organização dos Países Exportadores de Petróleo (Opep), com 2,675 milhões de barris diários. Com produção de 3,8 milhões de barris/dia, o Irã é o segundo maior exportador do cartel, ficando atrás apenas da Arábia Saudita.

¿ O mercado está reagindo à situação geopolítica atual, seja a Nigéria ou as preocupações em relação ao Irã ¿ disse Andy Lebow, corretor da Man Financial, em Nova York.

Pesquisa da Bloomberg News com analistas do setor mostra que a maioria prevê que a atual escalada de preços deve continuar, aproximando do recorde histórico, quando o barril do WTI alcançou US$70,85 em agosto, devido à passagem do furacão Katrina, que afetou a produção de petróleo no Golfo do México.

(*) Com agências e Bloomberg News