Título: VITÓRIA XIITA NAS URNAS IRAQUIANAS
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Fonte: O Globo, 21/01/2006, O Mundo, p. 22

Sem maioria absoluta, aliança precisa de coalizão para governar. Sunitas superam previsões

BAGDÁ

Amaior aliança xiita iraquiana, formada por partidos religiosos, conquistou a maioria das cadeiras do Parlamento nas eleições de dezembro, chegando perto de obter a maioria absoluta, informou ontem o comitê eleitoral. O resultado significa que os partidos religiosos xiitas serão uma força dominante no novo Parlamento, mas que terão que formar uma coalizão para governar.

E enquanto xiitas comemoravam o resultado na cidade sagrada de Najaf, Bagdá foi fechada pelas forças de segurança, temendo ataques de rebeldes sunitas, que acusam a aliança xiita de fraudar as eleições. Pelo menos dois civis morreram num dos vários ataques a bomba ontem contra patrulhas americanas e iraquianas.

Das 275 cadeiras no Conselho de Representantes, a Aliança Iraquiana Unida (AIU) ¿ que inclui o Partido Dawa do primeiro-ministro Ibrahim al-Jaafari e o Conselho Supremo para a Revolução Islâmica, de Abdul Aziz al-Hakim ¿ conquistou 128. Já o bloco formado por candidatos curdos é a segunda maior força, com 53.

Os xiitas representam cerca de 60% dos 25 milhões de iraquianos, enquanto os curdos respondem por 20% da população. Por anos eles foram reprimidos pelo governo de Saddam Hussein, que pertence à minoria sunita.

Os resultados da eleição de dezembro indicam uma participação maior dos sunitas, que haviam boicotado o pleito de janeiro do ano passado. Desta vez, dois blocos sunitas obtiveram 44 e 11 cadeiras. E mais dois grupos de árabes sunitas elegeram quatro representantes. O partido secular do ex-premier Iyad Allawi obteve 25 cadeiras e será a quarta força da Câmara.

Negociações para formar novo governo

A apuração mostra também que as duas principais forças do país perderam representantes. A AIU tinha 146 cadeiras e a aliança curda, 75. Juntas, elas formaram um governo de transição. Já os sunitas tinham apenas 17 representantes.

A coalizão de governo deverá ter dois terços da maioria do Parlamento para formar o Conselho da Presidência. Será este conselho que escolherá o primeiro-ministro e os integrantes do Gabinete. Xiitas e curdos haviam anunciado sua vontade de formar um governo de união nacional, incluindo sunitas. Mas os resultados indicam que estes têm poder de barganha limitado.

¿ Agora vamos começar sérias negociações em Bagdá para formar um governo de união nacional, baseado nesses resultados ¿ declarou Abbas al-Bayati, da AIU.

O político sunita Hussein al-Falluji disse que as negociações serão difíceis, mas que irão adiante. Apesar de muitos sunitas, inclusive Falluji, reclamarem de fraude nas eleições, monitores internacionais as consideraram válidas. Os partidos têm dois dias para contestar os resultados.

Numa surpresa, Ahmed Chalabi, o ex-exilado que antes da invasão era visto como o favorito dos americanos para governar o país, não conseguiu se eleger, informou o ¿New York Times¿.

O embaixador americano, Zalmay Khalilzad, pediu que as etnias e comunidades iraquianas se unam para formar o novo governo. Segundo ele, um dos grandes desafios está em torno da nova Constituição, que curdos e xiitas prometeram revisar atendendo a uma demanda sunita.

Muitos esperavam que as eleições ajudassem a reduzir a violência. Mas ontem, em Ramadi, foguetes foram disparados contra bases americanas e iraquianas. Devido ao temor de ataques, as estradas que ligam Bagdá às províncias de Anbar, Salahaddin e Diyala foram bloqueadas.

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