Título: HAMAS AVANÇA E AMEAÇA CONTROLE DO FATAH
Autor: Renata Malkes
Fonte: O Globo, 21/01/2006, O Mundo, p. 23

Vitória de grupo radical islâmico nas eleições gerais palestinas poria em risco negociações de paz com Israel

RAMALLAH, Cisjordânia. A quatro dias das eleições para o Parlamento da Autoridade Nacional Palestina (ANP), pesquisas apontam um empate técnico entre o grupo radical islâmico Hamas e o partido Fatah, do presidente Mahmoud Abbas. De acordo com o Centro Jerusalém de Comunicação e Imprensa, o apoio ao Hamas cresceu na reta final da campanha: o grupo tem 30,2% contra 32,3% do Fatah, aumentando o risco de influência de radicais sobre a ANP e ameaçando a retomada das negociações de paz com Israel.

Integrantes de forças de segurança votarão antes

O temor de choques entre facções rivais no dia da votação levou o Comitê Eleitoral Central da ANP, em Ramallah, a mobilizar 850 observadores internacionais para garantir a tranqüilidade na maior cidade da Cisjordânia. Os fiscais vão monitorar ainda o desempenho da imprensa internacional e a transparência da apuração. O Brasil será representado por uma delegação de oito membros, chefiada pelo embaixador extraordinário para o Oriente Médio, Affonso Celso de Ouro-Preto.

¿ O Itamaraty tem relações importantes com a Autoridade Palestina. O governo brasileiro não acredita na solução do conflito com israelenses através de controvérsias, mas do diálogo e da retomada do mapa da paz. As eleições têm importância fundamental e até a participação do Hamas mostra que há disposição para encontrar um caminho democrático que leve à solução de dois países para dois povos ¿ disse o responsável pela embaixada brasileira em Ramallah, ministro Josal Pellegrino.

Segundo o analista em tecnologia da informação Paulo Siqueira, a infra-estrutura montada pela ANP para a contagem de votos é confiável e está pronta. Nascido em Minas Gerais, Paulo trabalha na sede do Comitê Eleitoral Central palestino desde maio do ano passado. Funcionário de uma empresa terceirizada pela ONU, ele mora em Ramallah e faz parte da equipe que cuida da rede de computadores que permitirá à ANP contabilizar os votos de zonas eleitorais de Faixa de Gaza e Cisjordânia.

¿ Trabalhamos duro para que não haja erro técnico. Os colegas palestinos são capacitados e têm boa formação. Encaro isto como um grande desafio profissional, pois quando cheguei tive certo receio por estar numa zona de conflito. Há algumas semanas houve uma briga política no Fatah, invadiram o escritório e nos mandaram para casa. Fiquei preocupado, mas viver na Palestina é mais seguro que no Brasil, pois os problemas são políticos e sou cético com a política. A vida é tranqüila ¿ disse o analista, de 49 anos, que também já esteve em missões brasileiras no Timor Leste.

A imprensa local diz que Hamas e Fatah fecharam um acordo para evitar que homens armados entrem nas zonas eleitorais, mas por precaução, a ANP antecipou o pleito para membros das forças de segurança palestinas. Policiais e militares votarão em urnas especiais a partir de amanhã, para permanecer em estado de alerta máximo na votação de quarta-feira.

Ao menos 1,2 milhão de palestinos devem votar, quase 85% dos eleitores registrados. No centro de Ramallah, é impossível escapar da campanha. Pôsteres dos mais de 800 candidatos de 11 partidos sujam muros e postes e confundem os indecisos.