Título: CASO JEAN CHARLES: 10 PODEM SER PROCESSADOS
Autor: Fernando Duarte
Fonte: O Globo, 21/01/2006, O Mundo, p. 24

Mídia especula, entretanto, que investigação sobre morte de brasileiro estabelecerá apenas culpa coletiva

LONDRES. Ainda que seu relatório final pareça ter estabelecido uma espécie de culpa coletiva de agentes e oficiais da Scotland Yard pela morte de Jean Charles de Menezes, a Comissão Independente de Reclamações sobre a Polícia (IPCC) teria apontado o dedo para alguns indivíduos. Segundo a mídia britânica, pelo menos dez integrantes da força teriam sido mencionados como possíveis casos de um processo criminal. Entre eles, os dois agentes que executaram Menezes e a comandante Cressida Dick, responsável pela equipe de agentes que atuaram naquele 22 de julho na estação do metrô de Stockwell.

No entanto, ainda continua se especulando que a grande conclusão do relatório da IPCC é de que ninguém seria culpado especificamente pela tragédia, o que poderia pôr novamente na berlinda o comissário da Scotland Yard, Sir Ian Blair. Apesar de sequer ter sido ouvido pelos investigadores, ele é alvo de uma sindicância paralela que avalia se suas declarações errôneas sobre os incidentes podem ter confundido o público.

E a pressão sobre Blair certamente vai aumentar caso o Crown Prosecution Service (o Ministério Público britânico) acolha a suposta conclusão de culpa coletiva. O comissário teve sua renúncia pedida mesmo pelos setores mais conservadores da mídia britânica depois que trechos da investigação, obtidos por um canal de TV, revelaram um quadro bastante diferente do pintado por ele, para justificar a morte do brasileiro.

Blair disse ter informações de que Jean Charles usava roupas pesadas demais para o verão (que poderiam esconder uma bomba) e que fugira para a estação de Stockwell após ser abordado por policiais à paisana. No entanto, fotos de peritos e câmeras do circuito de segurança mostraram que o eletricista usava uma leve jaqueta jeans e entrara calmamente no trem da linha Northern, onde foi abatido com sete tiros na cabeça.

O Ministério Público não marcou uma data para decidir pela abertura ou não de um processo criminal, e poderá esperar até setembro para emitir um parecer. No domingo, parentes e amigos de Jean Charles pretendem fazer uma manifestação em Stockwell para marcar os seis meses de sua morte.