Título: MODELO PERMITE NOVA FORMA DE PREVER O TEMPO
Autor: Ana Lucia Azevedo
Fonte: O Globo, 21/01/2006, O Mundo / Ciencia e Vida, p. 24

Cientista brasileiro cria sistema capaz de fazer previsões para períodos mais longos

Se previsões de cientistas brasileiros estiverem certas, na semana que vem a barraca de sol será trocada pelo guarda-chuva. O tempo seco e ensolarado dará lugar a chuvas, segundo uma nova forma de avaliar previsões meteorológicas desenvolvida pelo grupo do professor Pedro Leite da Silva Dias, do Instituto de Astronomia, Geofísica e Ciências Atmosféricas da Universidade de São Paulo (IAG/USP). O modelo promete indicar com até 15 dias de antecedência a tendência meteorológica de uma região. Hoje, apesar de haver previsões de até 15 dias, faltam formas objetivas de avaliar a confiabilidade e normalmente se fornece a previsão de tempo com alguma confiança com até cinco dias de antecedência.

Benefícios à agricultura e à produção de energia

Dados gerados semana passada indicam que por volta do dia 25 chuvas substituirão o tempo excepcionalmente seco dos últimos dias. O modelo foi recebido por especialistas como um avanço. E o progresso acadêmico pode representar uma chance de beneficiar a agricultura e a produção de energia elétrica.

A Embrapa tem usado experimentalmente as informações. Na agricultura, dez dias fazem uma diferença significativa no planejamento da adubação, por exemplo. Já geradoras de energia podem programar melhor sua operação. Para o usuário comum, mais que mera curiosidade, a chamada previsão estendida aumenta as chances de planejar viagens e atividades ao ar livre, por exemplo.

¿ Nosso propósito é oferecer um instrumento para reduzir custos e aumentar a produtividade ¿ explica Dias.

A alma do novo método é matemática. Como os demais sistemas de previsão de tempo, é um modelo matemático que transforma em números dados como vento e chuva. O método usa dados e previsões feitas pelo Centro de Previsão do Tempo e Estudos Climáticos do Instituto Nacional de Pesquisa Espacial (CPTEC/Inpe). O CPTEC, afirma Dias, é um dos poucos centros em todo o mundo capaz de fazer várias previsões diárias. Estima-se que menos de dez países tenham essa capacidade. O que o grupo da USP fez, em linhas gerais, foi desenvolver uma nova forma de combinar e analisar os produtos dos centros que fazem previsão.

¿ Conseguimos indicações de tendências gerais para uma região. Continua a não ser possível dizer, por exemplo, se vai chover no dia tal, a tal hora, em tal cidade. Porém, essas previsões genéricas têm relevância para atividades que dependem intensamente do clima, como a agricultura ¿ observa Dias.

Ele destaca que o método leva em conta as chamadas oscilações intrassazonais ¿ mudanças bruscas de tempo numa estação.